HRW: luta contra o EI é o maior desafio para os direitos humanos no O. Médio
Beirute, 29 jan (EFE).- O surgimento do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) é o desafio mais “dramático” para os direitos humanos no Oriente Médio, afirmou nesta quinta-feira a Human Rights Watch (HRW), que, no entanto, lembrou que esta organização “não apareceu do nada” na Síria e Iraque.
O diretor-executivo da HRW, Kenneth Roth, disse, na apresentação em Beirute do relatório anual da organização, que um fator essencial para a aparição do EI no Iraque foram as políticas sectárias “abusivas” do ex-primeiro-ministro xiita Nouri al-Maliki, que causaram a radicalização dos sunitas do país.
Durante o mandato de al-Maliki (2006-2014), os sunitas foram perseguidos e excluídos de postos governamentais.
Isto, segundo Roth, fez com que muitas tribos sunitas que ajudaram as autoridades a derrotar a Al Qaeda no Iraque, precursora do EI, “se sentissem mais seguras lutando contra as forças de segurança” do que contra os jihadistas.
O sucessor de al-Maliki, Haidar Abadi, no poder desde setembro passado, fala de forma “mais inclusiva”, embora ainda não resolveu o maior problema que são “as milícias sectárias xiitas”, disse o responsável da HRW.
No caso da Síria, Roth explicou que a comunidade internacional se centrou em combater o EI, mas nenhum Estado aumentou a pressão sobre o regime de Bashar al-Assad para que deixe de matar civis, e “ambas coisas nem podem e nem devem ser separadas tão facilmente”.
Com seu poderio, os jihadistas retratam a si mesmos como “a força mais capaz de fazer frente à extraordinária brutalidade do presidente Al-Assad e suas tropas”, considerou.
As forças governamentais sírias continuaram atacando de forma deliberada civis que vivem em zonas opositoras, especialmente com barris de explosivos, que são uma arma pouco precisa, segundo HRW, que o Exército não se atreve a usá-la perto das frentes de batalha por temor de acertar suas próprias tropas.
Por este motivo, para Roth “vai ser preciso um esforço extraordinário para convencer os sírios para que lutem contra o EI se não forem combatidas as atrocidades de Al-Assad”.
Durante a entrevista coletiva, o diretor da HRW também fez insistência na situação dos direitos humanos no Egito, Líbano, Israel e Palestina.
Com relação ao Egito, a ONG constatou um declive “agudo” dos direitos humanos desde que o marechal retirado Abdul Fatah al Sisi chegou ao poder em junho de 2013.
“Desde o golpe de Estado, as forças de segurança de Al Sisi capturaram dezenas de milhares de suspeitos de pertencer à Irmandade Muçulmana, sem acusações ou julgamento algum, assim como muitos ativistas não religiosos”, destacou Roth.
Além disso, as autoridades egípcias puseram restrições aos poucos espaços que restam para a liberdade de expressão e de reunião.
A isto se soma a impunidade que desfrutam as forças da ordem, que realiza assassinatos em massa e prende centenas de manifestantes pacíficos, denuncia a HRW.
Já no Líbano, o ano 2014 trouxe uma deterioração da segurança, que ocasionou uma resposta do governo com efeitos negativos nos direitos humanos.
Entre essas consequências, estão as novas restrições que são aplicadas aos refugiados sírios e os abusos e torturas por parte das soldados de segurança quando realizam operações especiais.
O relatório também se fixa em Israel e Palestina, e ressalta que o conflito armado em Gaza entre o Exército israelense e os grupos armados palestinos em 2014 deixou milhares de vítimas pela violação das leis da guerra e dos direitos humanos, sem possibilidade de recorrer à justiça.
Na entrevista coletiva, Roth se queixou de que os EUA e alguns países europeus tenham tratado de evitar que a Palestina vá ao Tribunal Penal Internacional.
“Até agora ninguém explicou de forma crível por que o conflito palestino-israelense deveria ser uma exceção”, ressaltou. EFE
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