Humanos invadem habitat de crocodilos e o transformam em ponto turístico

  • Por Agencia EFE
  • 09/08/2014 10h44

María José Brenes.

San José, 9 ago (EFE).- Os crocodilos, predadores por natureza, são uma grande atração turística na Costa Rica pelo tamanho e por causa da facilidade em observá-los, mas os especialistas advertem que é importante respeitar seu habitat para evitar ataques a humanos.

Observar uma pessoa ao lado de um crocodilo para alimentá-lo, e até dar de comer na boca é uma atividade comum entre os estrangeiros que visitam o país centro-americano.

Mas hábitos como este preocupam a Comissão para a Conservação de Crocodilos, que alegam que os humanos estão invadindo o espaço do animal e que isto pode provocar ataques.

“Os crocodilos apresentam um comportamento agressivo por natureza e atacam para defender seu território. A realidade é que as pessoas invadiram seu território”, explicou o pesquisador sobre crocodilos, Ivan Sandoval.

O rio Tárcoles, com foz no Pacífico central, é conhecido na Costa Rica pela grande quantidade de enormes crocodilos e se transformou em atração turística, pois da ponte é fácil fotografá-los enquanto tomam sol.

Dados da Comissão para a Conservação de Crocodilos de 2004 identificaram a existência de 9,22 indivíduos por quilômetro linear no rio Tárcoles, enquanto atualmente calcula-se que há 9,5 indivíduos por quilômetro.

Existem ainda tours pelo rio em que moradores arriscam suas vidas para alimentar de perto demais estes animais.

Desde 1990 na Costa Rica se estabeleceram empresas turísticas no rio Tárcoles, quando começou o costume de alimentar crocodilos para atraí-los e assim montar um espetáculo para os visitantes.

Essa atração turística provoca uma mudança no tratamento dos crocodilos, que se acostumam a relacionar a presença de humanos com comida, o que faz com que cada vez que um animal destes vê uma pessoa se aproxime em busca de alimento.

“O crocodilo é um animal perigoso e nunca deixará de ser, mesmo que tenha estado muitas vezes perto de uma pessoa que dá comida a ele como parte do espetáculo. A população deve entender que um crocodilo não pode ser domesticado, são predadores”, explicou à Agência Efe o especialista em crocodilos e membro da Comissão para a Conservação de Crocodilos Juan Rafael Bolaños.

Dados da Comissão indicam que desde 1995 foram reportados na Costa Rica 32 ataques a pessoas, e 15 morreram por causa deles.

Um dos casos mais recentes é a morte de um nicaraguense que entrou na água para se banhar e foi devorado pelos crocodilos, que desaparecem com ele em questão de segundos, sem que nenhum das testemunhas tenham podido evitar a tragédia.

Em outubro do ano passado, um surfista foi atacado por um crocodilo na praia de Tamarindo, na província de Guanacaste, desta vez sem consequências graves.

Depois desses casos as empresas turísticas reforçaram a preocupação com a quantidade de crocodilos que são vistos em praias, mares e rios.

“Recentemente a observação de crocodilos aumentou e gerou uma situação de alerta tanto nos turistas que visitam a costa pacífica como em nossos trabalhadores”, manifestou a Câmara Costarriquenha de Hotéis em comunicado à imprensa.

No entanto, segundo os especialistas, não existe uma superpopulação do réptil, mas uma invasão das atividades turísticas, que estão cada vez mais associadas ao seu habitat.

Bolaños disse que os ataques acontecem por negligência humana e recomendou que o melhor é não alimentar os animais, mas respeitar seu espaço e identificar as áreas em que há a presença da crocodilos. EFE

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