I Guerra acabou com império dos czares e abriu caminho para o comunismo

  • Por Agencia EFE
  • 27/07/2014 11h42

Bernardo Suárez Indart.

Moscou, 27 jul (EFE).- A I Guerra Mundial significou a derrocada do já debilitado império autocrático russo, que caiu antes mesmo do término do conflito, vítima de duas revoluções que levaram à implantação do comunismo.

No dia 29 de julho de 1914, quando o czar da Rússia, Nicolau II, entrou na Grande Guerra após a Áustria-Hungria atacar a Sérvia, não se podia nem imaginar as consequências que o conflito bélico teria para seu vasto império, que nove anos antes tinha sofrido uma derrota militar para o Japão.

As duas derrotas, meses depois do início da guerra, nas batalhas de Tannenberg e nos lagos Masurianos (Prússia Oriental), deixaram em evidência a fragilidade do numeroso exército russo, integrado em sua maioria por camponeses quase sem preparação militar e mal equipados.

A impopularidade da guerra, na qual a Rússia sofreu até 1,7 milhão de baixas, foi aproveitada por diversos grupos revolucionários para aumentar sua influência entre os soldados.

O lema “Pão, terra e paz” usado pelos bolcheviques liderados por Vladimir Ilitch Lênin colou profundamente entre os soldados, que criavam sovietes (conselhos populares), como os que surgiram durante a fracassada primeira revolução russa (1905-1907).

As disputas bélicas, a agitação social e o colapso da economia detonaram em 1917 a Revolução de Fevereiro, revolta popular que levou à abdicação de Nicolau II e à formação de um governo provisório.

Em abril do mesmo ano, as novas autoridades informaram à França e ao Reino Unido que a Rússia cumpriria seus compromissos como aliado e continuaria na guerra contra a coalizão dos impérios alemão e Austro-Húngaro, à qual se uniram o Império Otomano e a Bulgária.

Esta decisão provocou uma nova onda de descontentamento popular, que os bolcheviques lideraram com o lema de “Todo o poder aos Sovietes” e que, em 25 de outubro, segundo o calendário juliano (7 de outubro, segundo o atual), desembocou no ataque ao Palácio de Inverno e na derrocada do governo provisório.

A primeira decisão do poder soviético foi a aprovação do “Decreto sobre a paz”, no qual propôs “a todos os povos em guerra e a seus governos iniciar imediatamente conversas com vistas a uma paz democrática e equitativa”.

A Rússia soviética seguiu formalmente como parte beligerante na “guerra imperialista” até 3 de março de 1918, quando assinou o tratado de paz de Brest-Litovsk com os adversários.

A paz separadamente saiu cara para o poder soviético: teve que renunciar aos territórios de Finlândia, Polônia, Estônia, Livônia, Curlândia, Lituânia, Ucrânia e Bessarábia.

O governo soviético não estava em condições de conter a ofensiva das potências na frente oriental e optou por realizar essas enormes concessões territoriais em troca de sua sobrevivência.

Além disso, já tinha começado a guerra civil na Rússia, e o Exército Vermelho estava ocupado em combater os partidários do czar, apoiados pelos antigos aliados na guerra contra as potências, interessadas na permanência da frente oriental.

“Quando foi assinada a paz de Versalhes, a Rússia ficou em uma situação singular: fez parte da coalizão vencedora, mas já tinha assinado a paz com os países derrotados em condições muito desvantajosas”, disse à Agência Efe o chefe do departamento de Politologia e Sociologia da Universidade Plekhanov, Andrei Koshkin.

A guerra, acrescentou ele, levou ao desaparecimento de quatro impérios, incluindo o russo, “onde, segundo os bolcheviques, foi construída uma sociedade sobre novos princípios”.

“Mas não se passaram nem cem anos desde o começo da Primeira Guerra Mundial, desde as revoluções de Fevereiro e Outubro, e esse novo sistema político se destruiu por si só”, apontou Koshkin, em menção à desintegração da União Soviética em 1991.

Segundo o catedrático, após a queda do comunismo, a Rússia retomou “certos valores tradicionais, mas em uma nova espiral dialética” de desenvolvimento. EFE

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