Igreja e governo argentino fazem a “revolução” da paz

  • Por Agencia EFE
  • 26/05/2014 22h54

Alida Juliani Sánchez.

Buenos Aires, 26 mai (EFE).- Em uma data cheia de simbolismo, a comemoração da Revolução de Maio, festa da pátria argentina, o governo de Cristina Kirchner e a Igreja Católica assinaram a paz após várias semanas de tensas relações e acusações mútuas, que culminaram com o escândalo de uma suposta falsa carta do papa Francisco.

Com uma chamada ao diálogo, as instituições estabeleceram uma nova trégua e deram por encerrada a última polêmica sobre a responsabilidade do Executivo na crescente insegurança que o país vive e a manutenção da “paz social”.

O palco eleito foi o retorno da presidente Cristina Kirchner, após oito anos, à catedral de Buenos Aires para assistir ao “Te Deum”, o principal ato religioso da festividade, após a dura homilia pronunciada em 2006 pelo então arcebispo Jorge Bergoglio, hoje o papa Francisco, que o afastou de Cristina e Nelson Kirchner.

Do atual papa foi a frase pronunciada por seu sucessor arcebispo de Buenos Aires, Mario Poli, durante a homilia à qual assistiram as principais autoridades do país.

“Ou se aposta no diálogo, na cultura do encontro, ou todos perdemos”, disse Poli reproduzindo as palavra do sumo pontífice, cuja chegada ao Vaticano representou a recuperação da boa sintonia entre o Executivo kirchnerista e a Igreja.

A sombra do pontífice, de quem Cristina voltou a se aproximar após duas audiências no Vaticano, planejou para o ofício religioso várias pedidos de diálogo e convivência, com as quais a hierarquia eclesiástica argentina dava também um giro nas declarações vertidas nas últimas semanas.

A chama que acendeu a pólvora em 1º de maio foi a publicação de um duro documento no qual a Conferência Episcopal Argentina afirmava que o país “está doente de violência” e advertia sobre a corrupção e o avanço do narcotráfico.

A severa declaração levantou inquietações no seio do Executivo e provocou uma inundação de opiniões que terminaram com um contundente discurso da presidente no qual assegurou que os que faziam ditas declarações “só procuram reeditar velhos enfrentamentos”.

Para responder aos hierarcas da Igreja, Cristina se rodeou então dos conhecidos como “curas villeros”, os sacerdotes que trabalham nos bairros pobres da periferia de Buenos Aires, e relembrou o trabalho do religioso Carlos Mugica, assassinado pela força paramilitar de extrema-direita conhecida como Triple A há 40 anos.

Nesse dia, a governante lançou mensagens diretas carregadas de religiosidades e pediu aos bispos que não permitissem a divisão “do povo de Deus” e lembrou que, segundo a mensagem bíblica, “o problema da violência é sempre a desigualdade”.

O tom do discurso e o cenário empregado então por Cristina foram muito diferentes aos de domingo, quando a governante inclusive se emocionou ao ler a oração pela paz de São Francisco, na qual o “louco de Assis” pede para antepor o amor ao ódio, o perdão à ofensa e a união à discórdia.

Uma mensagem na mesma linha que o papa tinha enviado dias antes a ela e ao povo argentino em uma carta cuja veracidade teve que ser confirmada pelo próprio pontífice, em um insólito episódio que causou perplexidade e todo tipo de rumores sobre o estado das relações com a Igreja.

As referências religiosas marcaram os últimos discursos públicos de Cristina, que durante os atos festivos deste domingo apelou ao “amor pelo outro” e pediu perdão se ofendeu alguém com seu estilo e seu tom.

Mas a “reconciliação” com a Igreja já tinha começado antes em privado, no último dia 15, quando a governante recebeu a hierarquia eclesiástica em sua residência oficial de Olivos, um encontro após o qual assegurou que “não existiam diferenças” entre as instituições. EFE

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