Igrejas da Sicília abrem suas portas para receber imigrantes

  • Por Agencia EFE
  • 21/06/2014 06h31

Cristina Cabrejas.

Roma, 21 jun (EFE).- Os bancos e capelas de paróquias da ilha italiana da Sicília se transformaram em dormitórios para centenas de imigrantes depois que os centros de acolhida estão lotados pelas maciças chegadas dos últimos meses.

Cerca de 60 mil imigrantes chegaram neste ano à costa siciliana e, além dos primeiros socorros, “a Sicília arca com a maior parte dos fluxos das chegadas e dá alojamento a 33% dos imigrantes que chegam à Itália”, como lembrou a presidente da Câmara dos Deputados e ex-porta-voz do organismo para os refugiados da ONU na Itália (UNCHR), Laura Boldrini.

Após sua visita à ilha italiana de Lampedusa, símbolo do drama da imigração, o papa Francisco pediu aos religiosos que abrissem as portas de seus conventos para acolher os refugiados e assim está sendo feito na Sicília.

O diretor da Cáritas de Palermo e pároco de João Maria Batista Vianney, Sergio Mattaliano, explicou hoje à Agência Efe que atualmente em igrejas e centros religiosos da capital siciliana estão alojados mais de 550 imigrantes, mas que o número muda de acordo com a chegada de novos imigrantes ilegais ou a transferência destes.

Perante a emergência, Mattaliano não duvidou em despejar a área litúrgica da igreja onde estavam os bancos, e colocou em seu lugar dezenas de camas que dão espaço a 225 jovens africanos que dormem agora sob o grande crucifixo do altar.

Neste sábado, Mattaliano realizará em sua paróquia junto com o imã de Palermo, já que a maioria dos imigrantes são muçulmanos, um ato de oração pelas vítimas que morreram no Mediterrâneo.

Seguiu seu exemplo o padre Mauricio Francoforte ao alojar 25 jovens imigrantes no centro Pai Nosso, fundado pelo Beato Don Pino Puglisi, assassinado pela máfia, no bairro de Brancaccio.

Além disso, outros 200 jovens puderam dormir nestes dias na Paróquia de Santa Maria Consoladora, no bairro de Ruffini, também em Palermo.

Entre os santos, afrescos e mosaicos da Igreja de São Carlos, onde Cáritas tem um de seus locais, foram instaladas outras cem camas para acolher os africanos.

“Substituímos o altar por camas. Penso que é a missa mais bonita que podíamos celebrar”, explicou aos meios de comunicação o pároco de São Luis Gonzaga, Rosario Francolino, que também deu alojamento em sua paróquia a centenas de imigrantes nos últimos dias.

Para o diretor da Cáritas de Palermo não importa que se tenham alterado completamente as atividades litúrgicas de sua paróquia, com centenas de camas distribuídas por todo o centro que impedem que missas sejam realizadas.

“Não podemos chegar a pensar que o local da liturgia seja apenas um lugar onde se celebram missas. A Igreja é um lugar de acolhida e como tal, em uma emergência como esta, não se pode não abrir estes locais para nossos irmãos”, afirmou à Agência Efe.

Para Mattaliano “agora é preciso demonstrar o amor do Senhor aos mais desfavorecidos. Os locais de Cáritas estão colapsados e não podemos não fazer isto. Não podemos fechar os olhos perante uma emergência. É um ato de amor perante grandes dificuldades”.

O diretor da Cáritas comentou que é preciso ajuda completa, “porque esta gente não tem nada, de comida a roupa, até um simples cigarro”, mas sobretudo poder ligar para a casa para comunicar que estão vivos.

Padre Sergio conta que muitos destes imigrantes, a maioria procedente da Costa do Marfim e Guiné, ficaram traumatizados porque viram seus parentes morrer enquanto atravessavam o Canal da Sicília e muitos sofreram torturas e foram explorados durante a longa viagem pelos traficantes, principalmente em sua chegada à Líbia.

Na paróquia de João Maria Batista Vianney dorme nestes dias um jovem do Mali, de 20 anos, resgatado pela Marinha italiana após um naufrágio no Canal da Sicília, e restou a Dom Mattaliano dar a notícia que seu irmão e seu primo que viajavam com ele não sobreviveram.

Padre Sergio explicou que apesar do drama, o mais belo “é como toda a comunidade se uniu na ajuda a estas pessoas e oferecem suas casas e seus bens, apesar de ser gente humilde de bairros pobres que já têm tantos problemas”.

Além disso, “cada noite é uma festa. Sicilianos e imigrantes dançam, falam, compartilham o jantar. Além disso, os sicilianos tentam ensinar um pouco de italiano”, relatou emocionado. EFE

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