Imigrante de Cuba descobre que não é cidadão americano após 50 anos nos EUA
Cristina García Casado.
Washington, 27 mai (EFE).- Mario Hernández serviu nas Forças Armadas durante a Guerra do Vietnã, trabalhou para o governo e votou em cada eleição desde a que teve Jimmy Carter como vencedor, mas ao solicitar passaporte para viajar de cruzeiro, descobriu que, após 50 anos nos Estados Unidos, para onde emigrou quando criança (é natural de Cuba), não era cidadão americano.
“Todo mundo se pergunta como pode acontecer algo assim. Seu caso é um exemplo claro de que o sistema de imigração de nosso país não funciona. Muitos de nossos soldados são imigrantes ilegais, e muitos imigrantes que chegaram ao país quando eram crianças desconhecem que estão em situação irregular”, disse à Agência Efe a advogada de Hernández, Elizabeth Ricci.
O caso de Mario Hernández ganhou atenção nacional nos Estados Unidos por deixar no ar a dúvida de como um homem que, por seus empregos, foi submetido a várias investigações das Forças Armadas e do governo, não descobriu até os 59 anos que nunca chegou a se tornar cidadão americano.
“Uma pessoa que age como cidadã, por exemplo, votando nas eleições, sem sê-lo legalmente, pode ser deportado e inclusive acusações penais”, afirmou Laura L. Lichter, ex-presidente da Associação Americana de Advogados de Imigração (Aila, na sigla em inglês).)
Hernández chegou aos Estados Unidos aos nove anos. Em 1965, viajou com sua família de Cuba para Miami em um dos chamados “voos da liberdade”, autorizados pelo ex-presidente americano Lyndon B. Johnson após a revolução cubana.
Ao chegar ao país como cubano e pedir asilo político, o governo americano lhe concedeu um “parole”, um documento de identificação especial que permite viver e trabalhar de maneira legal no país.
Sob a Lei de Ajuste Cubano (CAA) de 1966, pessoas que nasceram na ilha caribenha e que tenham vivido nos Estados Unidos podem solicitar a residência permanente (Green Card) e, cinco anos depois, pedir a cidadania.
“Hernández pensou que, como suas três irmãs, tinha se tornado residente permanente sob a Lei de Ajuste”, contou sua advogada.
Ao terminar o ensino médio, um de seus professores lhe convenceu a se alistar nas Forças Armadas, e ele assim o fez. Decidiu ser soldado em 1975, em um momento de grande impopularidade da Guerra do Vietnã.
Para alistar-se nas Forças Armadas, é necessário ser residente permanente ou cidadão. Hernández foi aceito, embora (sem sabê-lo), não cumprisse nenhum dos dois requisitos.
Os soldados com residência permanente têm direito a se naturalizar americanos, de modo que ele achou ter passado por este processo durante seus três anos de serviço e, desde então, deu como certo que tinha a cidadania.
Posteriormente, ele trabalhou mais de 20 anos para agências estaduais e federais em postos sensíveis como o de vigilância de criminosos perigosos. Embora para esse tipo de empregos seja investigado o passado do candidato, ninguém jamais detectou que ele não tinha os papéis em dia.
Hernández não soube que não era cidadão até novembro do ano passado, quando solicitou passaporte para viajar de cruzeiro com sua esposa.
Ele então começou uma batalha legal de vários meses que teve final feliz nesta semana. Na semana passada, Hernández se tornou, aos 59 anos e após viver por meio século nos EUA, cidadão americano, graças a ter servido nas Forças Armadas em um “período de hostilidades”.
“Primeiro nos negaram a solicitação, alegando que ele não era residente permanente quando se alistou, mas rebatemos que a lei diz que todos os que serviram em um período de hostilidades têm direito de se naturalizar independentemente de sua situação legal quando ingressaram nas Forças Armadas”, explicou Ricci.
Para a advogada, cuja carreira inteira defendeu casos de imigração, o que aconteceu com Hernández revela por um lado a “ineficácia” de um sistema de imigração que, em sua opinião, “não funciona”, e por outro, a falta de informação que os cidadãos têm sobre este tema.
“O erro está em pensar que estes processos são automáticos. Só por servir nas Forças Armadas você não recebe a cidadania, a não ser que a peça. Por se casar com um americano não te dão residência permanente, é preciso pedi-la. Não é automático”, advertiu a advogada.
“Estes casos não acontecem todos os dias, mas acontecem. Há muitas pessoas aí fora que pensam que são cidadãos e não são. O que ocorreu com Hernández nos dá uma lição. Devemos nos perguntar: o que faremos agora? Como regularemos este sistema de imigração?”, explicou Licther, por sua vez.
A prometida reforma migratória do presidente dos EUA, Barack Obama, está estagnada no Congresso e, provavelmente, não avançará neste ano de eleições legislativas. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.