Imigrantes ilegais africanos “esquecem” Europa e cruzam Panamá rumo aos EUA

  • Por Agencia EFE
  • 08/08/2015 18h57

Darién (Panamá), 8 ago (EFE).- Adbi Wahhab Ali Osman se recupera aos poucos dos ferimentos provocados pela selva de Darién, no Panamá um território inóspito e hostil, mas necessário para que vários imigrantes africanos consigam chegar aos Estados Unidos.

Osman andou dez dias perdido na região de 20.700 metros quadrados que está na fronteira entre a Colômbia e o Panamá, sem comida, sem água, sem rumo. As autoridades o encontraram semi-inconsciente, com o corpo cheio de cortes, arranhões e picadas.

“Estive prestes a morrer. Essa selva é um inferno. Preciso de remédios, vitaminas, mas não me dão”, revelou Osman à Agência Efe, enquanto segue preso no centro de detenção de Masdi, na pequena cidade de Metetí, nos arredores de Darién.

Vindo da Somália, ele é um dos 708 africanos que neste ano cruzaram a selva de Darién em busca do “sonho americano”. O destino alternativo é uma forma de fugir do “cemitério” no qual se transformaram as águas do Mediterrâneo.

“Os EUA são melhores que a Europa, há mais oportunidades para nós e é muito mais seguro. O Mar Mediterrâneo e o deserto do Saara são extremamente perigosos”, reconhece em perfeito inglês outro imigrante, um jovem da Eritreia que preferiu não se identificar.

Em um só ano, o número de imigrantes da África que passaram pelo Panamá e cruzaram ilegalmente a fronteira dos EUA cresceu 134%.

A crise migratória e econômica que afeta a Europa, e a política de portas abertas de alguns países latino-americanos estão por trás do “aumento abismal” dos números, explica o diretor-geral do Serviço Nacional de Fronteiras do Panamá (Senafront), Frank Abrego.

A maior parte dos africanos vem da Somália. Os traficantes costumam cobrar entre US$ 3 mil e US$ 4 mil pelas passagens de avião ao Brasil e Equador. Já na fronteira entre a Colômbia e o Pamaná, eles encontram a selva de Damién.

“Os guias não esperam ninguém”, disse um jovem somali de apenas 18 anos, que preferiu não se identificar.

Muitos dos imigrantes morrem na travessia, derrotados pelo cansaço e pelos obstáculos de uma das florestas tropicais mais úmidas do mundo, que esteve sob muito tempo sob domínio dos narcotraficantes colombianos.

Parte dos que não consegue vencer a passagem é capturada pelos agentes da Senafront e levada a centros de detenção. Depois, são transferidos à capital do país e, mesmo sem documentação, acabam sendo liberados pelas autoridades para seguirem seus caminhos.

“Eles não são deportados porque é difícil. Seus países de origem não têm representação diplomática no Panamá e o processo de volta é complicado. Além disso, são pessoas em trânsito. Portanto, os deixamos ir”, explicou o supervisor de migração das regiões de Daríen e San Blas, Domingos Flores.

Os imigrantes, porém, superaram apenas um dos desafios na travessia. Muitos acreditam que o caminho está praticamente feito, mas se esquecem que o pior ainda vai chegar: passar pelo México e conseguir atravessar a violenta fronteira do país. EFE

mmm/lvl

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