Imigrantes subsaarianos tentam ultrapassar reforço da fronteira com Ceuta

  • Por Agencia EFE
  • 13/03/2014 10h23

Marta Miera.

Castillejos (Marrocos), 13 mar (EFE).- Os imigrantes subsaarianos têm buscado nos últimos dias novas estratégias para enganar os controles espalhados pelo Marrocos que têm o objetivo de frear as tentativas de entrada na cidade espanhola de Ceuta.

“Estamos entrando em contato entre nós para ver em que momento do mês voltamos a tentar, por via marítima ou terrestre”, contou Abdul, um nigerino que vive há um ano no Marrocos e que advertiu para a presença de uma dúzia de caminhonetes das forças auxiliares e da polícia em Benyunes.

A polícia espanhola informou que as Forças de Segurança do Estado e a Gendarmaria marroquina aumentaram os controles e a vigilância sobre a fronteira de Benyunes após detectar imigrantes no local.

Após a tragédia de Tarajal, na qual 15 pessoas morreram afogadas, as tentativas de ataque dos imigrantes a Ceuta foram barradas pelo aumento do número de soldados espanhóis e marroquinos na fronteira.

Na estrada que liga Tanger a Castillejos, cidade situada aos pés da praia de Ceuta, grupos de jovens pedem dinheiro e alimentos aos motoristas dos carros que passam.

Vêm do que chamam a “floresta grande”, dentro das montanhas próximas a Benyunes, um dos pontos mais quentes do Marrocos e por onde tentam atravessar os imigrantes, mas em menor medida por causa, explicaram, dos radares térmicos e sensores de movimento ali instalados.

Estes imigrantes não se escondem dos veículos que passam porque já não temem as detenções policiais. “Não temos nada a perder”, destacaram.

“Passei o dia todo na estrada e nem um só carro parou para me ajudar”, comentou David, um jovem de 28 anos da Guiné que abandonou os estudos de sociologia para se jogar em uma “aventura” que dura já quatro anos e que se transformou em um pesadelo.

Nem o frio nem a falta de abrigo tiram sua vontade de chegar à Espanha. Até desembarcar no Marrocos não tinham se dado conta da difícil situação que os esperava.

“Meu objetivo é saltar, por isso vivo na floresta. Caso contrário esta vida não faria sentido”, ressaltou David, que está na mais absoluta indigência e que perdeu seu passaporte em uma das várias tentativas que fez por mar.

De vez em quando, decidem se aventurar até Castillejos, famosa pelo contrabando de mercadorias, onde os moradores seguem o curso normal dos dias com seus mercados ambulantes.

Os marroquinos desta cidade se familiarizaram com estes subsaarianos e oferecem roupa, comida, e aluguel de apartamento por cerca de 80 euros ao mês nos arredores da cidade.

Abdul, por exemplo, passeia pelas ruas de Castillejos como um cidadão qualquer e entra de loja em loja cumprimentando os comerciantes, que o recebem de braços abertos.

Em Benyunes, no entanto, os cidadãos são mais reticentes em acolher os imigrantes. “Nunca viram um negro na vida”, comentou Abdul, que destaca como a partir desta cidade sempre tentam embarcar rumo à Espanha.

“Daqui podemos escolher entre ir a Algeciras ou a Ceuta, mas agora, apesar dos radares, pensamos em fazê-lo também a pé (cruzando a fronteira terrestre)”, afirmou Abdul.

São muitos os que escolhem a escuridão da noite para passar mais despercebidos e se aproximar das cidades onde tentam se posicionar para esperar a situação ideal para atravessar.

“Temos que ter cuidado porque muitos marroquinos quando nos veem nos denunciam imediatamente à polícia”, comentou um senegalês, enquanto Abdul negociava em um dos bairros de Castillejos com uma pessoa local o preço (500 euros) da moto aquática que, sonha, o levará até Espanha.

“Trop free!”, exclama Abdul. Trop (muito em francês), free (liberdade em inglês), uma expressão inventada e repetida até não poder mais entre os subsaarianos que quer dizer ironicamente que “tudo vai muito vem”. EFE

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