Imunoterapia é a protagonista da maior reunião mundial de oncologia
Noemí G. Gómez.
Chicago (EUA), 3 jun (EFE).- A imunoterapia como método para combater o câncer e a combinação de medicamentos voltaram a ser protagonistas da reunião da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, que termina nesta terça-feira após cinco dias de debates sobre câncer de ovário, próstata, mama e melanoma.
Em Chicago, mais de 25 mil especialistas de todo o mundo participaram do evento, um congresso que este ano celebrou sua 50ª edição sob o tema “Ciência e sociedade: os próximos 50 anos”. Nele, não faltaram críticas aos cortes de orçamento nos Estados Unidos e advertências sobre o que isso pode representar para a pesquisa em câncer.
Segundo Richard Schilsky, diretor médico dessa sociedade, o orçamento dos institutos nacionais de saúde hoje é quase 25% menor do que em 2003. Em consequência, segundo ele, os repasses foram reduzidos em 10%, motivo pelo qual mais de 600 projetos de pesquisa em câncer ficaram sem financiamento no ano passado.
Como na edição anterior, a imunoterapia voltou a ser foco do debate.
As células com tumor podem ser identificadas como estranhas pelas células do sistema imune, desencadeando assim uma resposta que as destrói, mas nem sempre funciona, já que estas conseguem escapar deste mecanismo de destruição.
Os cientistas já conhecem os aspectos importantes de como os tumores se protegem desta maquinaria e na reunião da Sociedade Americana de Oncologia Clínica foram divulgados os avanços obtidos em melanoma, bexiga e câncer cervical.
Foi apresentado, por exemplo, o primeiro tratamento imunológico de nova geração capaz de reduzir os tumores no câncer de bexiga, doença na qual não foram alcançados avanços terapêuticos em quase 30 anos.
Os pesquisadores dos centros dos Estados Unidos, França e Espanha usaram um fármaco – um anticorpo monoclonal – em pesquisa desenvolvida para bloquear uma proteína chamada PD-L1.
Em melanoma também houve avanços: três pesquisas da Universidade da Califórnia, e de Yale (ambas nos EUA) e do Centro Gustave Roussy (França), que demonstraram a eficácia da imunoterapia para aumentar a sobrevivência global dos pacientes e reduzir o risco de recaída.
Embora pequena, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica também destacou uma investigação sobre o câncer cervical causado pelo vírus do papiloma humano, no qual foi aplicado um novo tratamento personalizado, baseado em células T, com “resultados promissores” que conseguiu reverter completamente o câncer em duas mulheres com metástases, sem que voltasse aparecer em um ano.
“Estamos avançado muito em imunoterapia. Em pouco tempo se evidenciou que isto pode ajudar os pacientes”, concluiu Antoni Ribas, da Universidade da Califórnia.
Quanto à combinação de moléculas, foram apresentados, entre outros, dados sobre câncer de ovário: o Instituto Oncológico Dana-Farber de Boston (EUA) constatou que a combinação de dois fármacos experimentais (olaparib e cediranib) evita, de maneira mais eficaz, a progressão do tumor em pacientes que sofreram recaídas, o que poderia representar uma alternativa à quimioterapia.
O maior fórum do congresso é a plenária e lá foram discutidos quatro trabalhos muito esperados pelos oncologistas que, graças a eles, poderão afinar sua prática clínica.
Próstata, intestino e mama centraram estas pesquisas, que ajudarão a que os pacientes “vivam mais e melhor”, afirmou o presidente da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, Clifford A. Hudis.
No de mama, o Instituto Oncológico do Sul da Suíça mostrou em mulheres com pré-menopausa que o remédio exemestano previne de maneira mais eficaz que tamoxifeno a reincidência do câncer, quando se soma à supressão da função ovárica (se evita temporariamente a produção de estrogênios, que favorecem a geração de câncer).
O câncer de intestino foi outro dos protagonistas: foram publicados dados que garantem a mesma eficácia do fármaco bevacizumab (Roche) mais quimioterapia e cetuximab (Merk) mais quimioterapia em pacientes com metástases e o gene KRAS não modificado.
Além dos trabalhos, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica também distinguiu o trabalho de alguns pesquisadores, entre eles a de Surendra Shastri, com o Prêmio Humanitário 2014.
Em 2013, ele apresentou um estudo sobre o uso do vinagre como estratégia de blindagem eficaz para detectar células cancerígenas no colo do útero, que na Índia conseguiu reduzir 31% as mortes por este tipo de câncer. EFE
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