Incursão terrestre multiplica horror, após 10 dias de medo em Gaza

  • Por Agencia EFE
  • 18/07/2014 13h21
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Javier Martín.

Cidade de Gaza, 18 jul (EFE).- Como toda manhã de sexta-feira desde que seu pai o levou pela primeira vez à mesquita, Fadi al Lahawi, se limpou com zelo e colocou a “galabeya” branca e passada dos dias de oração comunitária.

Despediu-se de sua mulher, pegou sua bicicleta e iniciou o longo caminho que separa a mesquita Al Umari, a mais antiga da Faixa de Gaza, de sua casa no bairro de Zaitum, um dos mais castigados pela atual ofensiva israelense na região.

“Não dormimos, não acho que ninguém tenha dormido esta noite. Meus filhos ainda choram e minha mulher não quis sair durante toda a noite de debaixo da mesa. Mas Alá quis que continuemos vivos”, explica Fadi com um trejeito de dor sob profundas olheiras.

“Faz dez dias que não dormimos mais de três horas seguidas. Batem e batem. Pode ser qualquer casa. Ontem à noite foi muito pior”, acrescenta antes de argumentar por que não foi embora, como outros, na busca de um lugar mais seguro.

“Somos todos uma mesma humanidade e pertencemos a um só Deus. Ele decide”, sentencia antes de perder-se pela porta de um dos únicos lugares, junto ao mercado central, onde nesta sexta-feira havia grupos de gente.

O governo israelense decidiu na noite de quinta-feira ampliar sua ofensiva militar em Gaza com a fase terrestre, tão temida pela população civil como esperada pelos extremistas de ambos os lados, que pressionaram para impor um conflito armado.

Unidades de infantaria, tanques e carros blindados israelenses cruzaram a linha divisória e se postaram em áreas abertas próximas à fronteira, de onde bombardearam com grande intensidade, toda a noite, bairros do norte, do leste e do sul da Faixa.

Alguns combates corpo a corpo foram travados no arredor de bairros como Beit Hanoun, Beit Lahia e Zaitum, nos quais morreram 14 milicianos islâmicos e um soldado israelense, segundo números divulgados pelos porta-vozes militares.

Zaitum e Beit Lahia, era hoje um local ermo e desolador, palco fantasmagórico de lojas fechadas e ruas vazias, no qual só se escutava o flamejar da bandeiras do Hamas e da milícia palestina Jihad Islâmica.

De vez em quando, uma criança cruzava as estradas desertas, ou uma inesperada explosão sacudia os prédios, levantando uma nuvem de fumaça e pó, lembrando quanto improvável se transformou a vida em Gaza.

Um morador do bairro de Beit Lahia, deserto e com as marcas da guerra ainda fumegantes, explicou à Efe esta manhã o inferno que tinham suportado: durante algumas horas, o som dos mísseis e dos morteiros se repetia a cada seis segundos.

Lá, Israel também bombardeou com intensidade um hospital de incapacitados no qual tinham se refugiado como escudos humanos um grupo de estrangeiros.

Pouco após ser iniciada a incursão terrestre foram avisados e tiveram 15 minutos para escapar e movimentar os pacientes, que foram levados a outra clínica, explicou um deles.

“O problema é que não sabemos quanto vai durar. O que vão fazer. Quanto podemos resistir. De dia não comemos por causa do Ramadã e à noite não dormimos”, se queixava Raduan, um homem que hoje procurava carne para comprar em um mercado quase vazio.

Embora o Exército israelense tenha se apressado a informar que seu objetivo é debilitar a infraestrutura militar do braço armado do Hamas – em particular as plataformas de lançamento de foguetes e os túneis – mas respeitar sua seção política, poucos sabem como vai se desenvolver a segunda incursão terrestre em cinco anos.

Tudo aponta para que nesta fase inicial, blindados e infantaria ficarão a poucos quilômetros da fronteira, e não se arriscarão a entrar nas cidades, para evitar o perigo de uma guerra urbana cheia de baixas.

Uma opção que segundo os analistas prolongaria a operação, que aparentemente ainda não contempla a alternativa da ocupação e permanência do Exército.

Umm Aisha, uma jovem mãe com cinco filhos residente em Beit Lahia, também está preocupada com a permanência, e está refugiada na escola da ONU, para onde se viu obrigada a ir após fugir dos mísseis.

“Não temos roupa para nos trocar. Não temos comida, estamos aqui fechados sem quase poder sair”, explicou à Efe na escola de Falah à qual chegou sem seu marido, ferido no primeiro dos bombardeios.

Assustada, saiu com suas filhas em direção à casa de sua mãe, em Zaitum. Um dia depois, um segundo míssil caiu na vizinhança, quebrou os vidros e multiplicou o medo. EFE

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