Índia quer transformar viagem de trem em “experiência feliz”
Moncho Torres.
Nova Délhi, 27 mar (EFE).- O governo indiano anunciou um investimento recorde em transporte a fim de tornar a viagem de trem uma “experiência feliz” e acabar com a falta de segurança, com os atrasos e com os vagões sujos e lotados que atualmente caracterizam o transporte no país.
Ao apresentar sua proposta de orçamento para o próximo ano fiscal para o parlamento há algumas semanas, o ministro de Ferrovias indiano, Suresh Prabhu, afirmou que os esforços estão sendo concentrados em “transformar a viagem de trem na Índia em uma experiência feliz”.
O investimento chegará ao equivalente a cerca de R$ 56 milhões em 2014, 52% a mais do que em 2014. E a quase R$ 434 milhões nos próximos cinco anos: um valor recorde.
O ministro também foi claro ao afirmar que com essas melhorias pretende beneficiar principalmente os “pobres” e o “homem comum”, trazendo “limpeza, conforto, acessibilidade, qualidade de serviço e velocidade”.
Dados oficiais indicam que há cerca de 270 milhões de pessoas pobres na Índia, que possui 857 milhões de habitantes. No entanto, há fortes críticas a estes valores e algumas ONGs afirmam que este número gira em torno de 400 milhões.
Em entrevista à Agência Efe, o passageiro Rakesh Kumar, de 55 anos, que costuma viajar de terceira classe no trem Mumbai-Punjab, no conhecido como “vagão geral”, afirmou que os principais problemas do transporte são a falta de segurança, o estado dos banheiros e a limpeza, de uma forma geral.
“A limpeza não é boa. Os lavabos não funcionam e há lixo em toda parte. Ninguém vem limpar. Também não há policiais para cuidar da segurança. Mesmo diante de roubos e furtos, nunca vem ninguém”, declarou Kumar, que estava bem barbeado e vestido com uma camisa branca, disposto a compartilhar sua experiência.
Pouco antes, na estação de Faridabad, cidade próxima à Nova Délhi, centenas de pessoas tentaram embarcar nos vagões da terceira classe com malas e sacos de arroz.
Mesmo depois de o trem começar a andar, houve quem continuasse tentando entrar, correndo e tentando subir em algum vagão no qual houvesse o mínimo de espaço. Os que conseguiram ficaram o resto da viagem com o corpo projetado para o lado de fora do trem.
Muitas pessoas viajam entusiasmadas, como, por exemplo, um homem e um grupo de mulheres que passaram todo o tempo que estiveram no trem cantando e batendo palmas. Uma dessas mulheres, Sarita Singla, de 48 anos, disse à Efe que o que mais a incomoda é quando os ventiladores não funcionam no verão, quando os termômetros chegam a marcar 50 graus.
Mas, nesta época do ano, quando normalmente chove e faz frio, alguns passageiros usam os ventiladores para aparar seus calçados enquanto descansam nos beliches.
Singla disse ainda que os banheiros também desagradam, pois “estão sempre molhados” e afirmou que “seria ótimo se os melhorassem”.
Os banheiros dos vagões, assim como o da estação de Faridabad exalam um cheiro horrível e os lavabos estão completamente inutilizados, cheios de resto de comida, lixo e cuspes alaranjados de “paan”, o fumo de mascar.
“As pessoas sujam, cospem e jogam lixo no chão. Se continuar assim o governo não pode ajudar em nada. A limpeza acontece apenas pela manhã e a tarde. (…) O povo se comporta mal e depois se queixa do governo”, declarou Chander Mohan, um passageiro de 50 anos.
Em um discurso televisionado, o ministro Prabhu pediu que a população conserve os trens: “As ferrovias da Índia são a moradia ambulante de vocês. Por favor, mantenham-na limpa”.
Além de contar com a colaboração dos usuários da rede de transporte, o ministério pretende contratar empresas de limpeza, prover mais lixeiras e banheiros, aumentar o número de vagões e de vias, para evitar lotações e os atrasos, e também reformar as estações.
No entanto, ao desembarcar em Nova Délhi, a estação nos devolve, com sua sujeira e deterioração, a uma realidade completamente diferente, onde diversas crianças trabalham catando lixo entre os trilhos. EFE
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