Indústria russa aposta na América Latina para consolidar internacionalização
Waldheim García Montoya.
Moscou, 23 dez (EFE).- A indústria russa deixa cada vez mais o estigma de fechada e sigilosa que ganhou nos tempos da antiga União Soviética e agora sua aposta firme é a aproximação com a América Latina para consolidar sua internacionalização, fortalecida por sua associação com multinacionais do Ocidente.
Uma das aproximações adiantadas entre empresas da Rússia e da América Latina é a estabelecida entre a fabricante russa de caminhões Kamaz e a construtora brasileira de carrocerias para ônibus Marcopolo, que em 2011 criaram uma joint venture para a montagem final dos veículos.
A empresa opera na cidade russa de Neftekamsk, mas segundo comentou à Agência Efe o diretor-geral da Kamaz, Serguei Kogogin, as duas empresas estudam a instalação de uma fábrica para a montagem completa dos ônibus em Naberezhnie Chelni, cidade na qual está a matriz da fabricante.
A Kamaz, que usa em seus veículos tecnologia alemã na caixa de câmbio e motores da americana Cummins, quer aproveitar na América Latina sua imagem fortalecida com o fato de produzir um caminhão catalogado entre os dez melhores do mundo e por dominar em sua categoria durante os últimos anos o rali Dacar.
Dessa forma, a companhia espera concretizar em 2015 a implantação de uma fábrica na Argentina, participar de uma licitação do Ministério da Defesa do Peru, aumentar sua presença no mercado de basculantes e no setor da construção na Colômbia, reativar sua aproximação com o México e oferecer mais serviços na Venezuela.
“A América Latina tem um grande mercado, estabilidade política e as relações empresariais são excelentes. Sabemos que o México é um grande e interessante mercado e que no Brasil o estado de São Paulo tem as melhores condições. Contemplamos muitos variantes e umas não eliminam necessariamente as outras”, declarou Kogogin.
Outra das empresas russas com seus olhos na América Latina é a Helicópteros de Kazan, companhia que segundo seu diretor-geral, Vadim Ligay, procura avançar “além” do bloco Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Consolidada na Colômbia com seus helicópteros de resgate e transporte militar, a Helicópteros de Kazan pretende aumentar sua presença na região em mercados “grandes” como México e Brasil, onde um de seus modelos está em fase de certidão para operar com a construtora Odebrecht.
“A América Latina é uma tarefa prioritária e fonte de crescimento. Trabalhamos para ganhar esse mercado tão promissor”, disse Ligay, que assinalou também a importância dos projetos de exploração petrolífera em países como Brasil e Peru, que requeriam uma demanda grande por helicópteros.
Para Anatoliy Vladimirovich, vice-diretor geral da holding Shvabe, a Rússia supera as barreiras políticas e ideológicas em seu desenvolvimento industrial, como ocorre na empresa óptico-mecânica dos Urais, em Ekaterimburgo, que incorpora tecnologia e elementos de multinacionais do Ocidente e vice-versa.
Especializada em peças de precisão e automatização de diversos setores da engenharia e em lentes para grandes telescópios, a Shvabe vê na América Latina “um território de oportunidades”.
Em um encontro com jornalistas latino-americanos, promovido no início deste mês em Moscou pelo consórcio estatal de indústrias Rostec, o ministro da Indústria e Comércio da Rússia, Denis Manturov, afirmou que as sanções econômicas do Ocidente ao país estimularão sua aproximação com a América Latina.
“A América Latina não é só México, Brasil e Argentina. Queremos chegar a outros países com equipamentos de alto valor tecnológico, como Equador e Bolívia”, assegurou.
O gerente de comunicação do Rostec, Vasyl Brovko, ressaltou também o potencial que tem na região latino-americana o consórcio, um dos maiores produtores mundiais de armas, aviões, helicópteros e outros equipamentos.
“Não podemos deixar de aproveitar isto”, opinou Brovko, para quem a América Latina “é a melhor entre várias opções” na estratégia de internacionalização da indústria russa. EFE
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