Inesperada renúncia de governo egípcio semeia incerteza sobre transição

  • Por Agencia EFE
  • 24/02/2014 15h43

Cairo, 24 fev (EFE).- O governo egípcio, liderado por Hazem el Beblaui, anunciou nesta segunda-feira a renúncia, uma surpresa em meio ao aumento do descontentamento popular com sua gestão e a poucos meses das eleições presidenciais, ainda sem data definida.

Em um novo giro na acidentada transição egípcia, o executivo interino – formado em julho após o golpe militar que derrubou o islamita Mohammed Mursi – apresentou sua renúncia ao presidente do país, Adly Mansour, embora continue interinamente no cargo até a formação de um novo governo.

Beblaui não revelou os motivos da decisão, embora tenha destacado que chegou ao fim a primeira etapa do roteiro traçado pelos militares após o golpe de estado.

Tendo reconhecido “alguns desequilíbrios” em seu gabinete, Beblaui ressaltou na coletiva que as reformas não podiam ser realizadas por conta própria pelo executivo e que eles se esforçaram para “tirar o país do estreito túnel dos problemas de segurança, políticos e econômicos”.

Mas parece que esses esforços não foram suficientes. As diferentes forças políticas criticaram o fracasso do governo em cumprir as reivindicações populares de melhoras trabalhistas e de segurança.

O Conselho de Ministros se limitou a apontar em comunicado, após breve reunião de urgência, que renunciava “em meio as atuais circunstâncias e com interesse em responder aos requerimentos desta etapa”.

Segundo o diário estadual “Al-Ahram”, o presidente deve aceitar a renúncia e designar um novo primeiro-ministro o titular da Casa, Ibrahim Mehleb, que negou que por enquanto tenha sido encarregado de formar o gabinete.

Há semanas se especulava sobre uma pequena remodelação do Executivo, mas não de sua saída em bloco, à espera do possível anúncio de candidatura do ministro da Defesa e chefe do exército, Abdelfatah al Sisi.

O analista político Mustafa Kamel, professor na Universidade do Cairo, disse à agência Efe que o marechal e atual “homem forte” do Egito não quer que este mal-estar com o gabinete atrapalhe ou ofusque sua eventual candidatura.

Para Kamel, as principais razões da renúncia do executivo são as pressões da opinião pública e dos meios de comunicação pelos poucos avanços no âmbito econômico e da segurança no país, cenário de frequentes manifestações dos islamitas e de atentados terroristas.

Nas últimas semanas também aconteceram greves em vários setores, inclusive nos correios e de motoristas de ônibus públicos, para exigir a aplicação da lei que fixa um salário mínimo para os funcionários.

A renúncia pegou todos de surpresa, já que Beblaui – economista co-fundador do Partido Social-Democrata – tinha uma visita oficial à Nigéria marcada para daqui a dois dias.

O político Khaled Dawoud, porta-voz do liberal Partido da Constituição, fundado pelo prêmio Nobel da Paz Mohamed El Baradei, qualificou a renúncia do governo de “inesperada” porque contavam com o mandato até as eleições presidenciais.

Dawoud explicou a Efe que o gabinete esteve sob pressão devido ao “descontentamento geral” e às greves e considerou, em relação à possível candidatura de Al Sisi, que não era necessária a saída de todo o Executivo.

O partido salafista Al Nour, que apesar da tendência islamita respaldou o golpe militar, afirmou que o governo de Beblaui foi “muito débil e se manteve isolado do povo”, enquanto o movimento Tamarrud, artífice dos protestos contra Mursi, deu as boas-vindas à notícia.

A seu favor, Beblaui citou a aprovação da Constituição em janeiro, com a qual Egito deu “um grande passo rumo a construção de uma sociedade democrática”, cumprindo o roteiro que estipula a realização de eleições presidenciais e legislativas.

Com a incógnita aberta sobre o novo governo, que deverá dirigir até as eleições presidenciais, tudo aponta que Al Sisi já não ocupará a pasta da Defesa para ter o caminho livre em busca da chefia do Estado. EFE

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