Inglaterra alerta Escócia que união monetária significa “perda de soberania”

  • Por Agencia EFE
  • 29/01/2014 18h37

Judith Mora.

Londres, 29 jan (EFE).- O governador do Banco da Inglaterra, o canadense Mark Carney, advertiu nesta quarta-feira que uma união monetária com o Reino Unido representaria, para uma eventual Escócia independente, “uma perda de soberania”.

Carney expôs pela primeira vez os desafios de tal união em um discurso perante empresários em Edimburgo, e se referiu à crise na zona do euro como um exemplo do que pode acontecer caso “os fundamentos adequados” não sejam estabelecidos para que países diferentes adotem a mesma moeda.

O primeiro-ministro escocês e líder do Partido Nacional Escocês (SNP), Alex Salmond, defende que se a Escócia se tornar independente e mantiver uma união monetária com o resto do Reino Unido, utilizando a libra esterlina como moeda, tal condição beneficiará as duas economias.

No entanto, o governo de Londres afirma que um acordo desse tipo é “altamente improvável” e alerta que, para depender do Banco da Inglaterra, Edimburgo não poderia controlar sua política monetária e as taxas de juros.

De forma imparcial e tentando não assumir uma posição, Carney analisou hoje a questão, que desponta como assunto-chave na campanha que antecede o plebiscito de independência da Escócia, que acontecerá no dia 18 de setembro de 2014.

O governador ressaltou que qualquer decisão sobre o uso da moeda deveria ser tomada pelos respectivos Parlamentos e o banco se limitaria a “aplicar” os acordos estabelecidos.

No entanto, advertiu que essas uniões, embora vantajosas para as transações comerciais e o fluxo de capitais, trazem riscos se não forem bem executadas desde o princípio.

“Se tais deliberações (entre Edimburgo e Londres) acontecerem, devem considerar cuidadosamente o que a teoria econômica sobre uniões monetárias estabelece como os fundamentos necessários para uma união duradoura, particularmente devido aos riscos existentes”.

Carney observou que esses riscos “foram claramente demonstrados na zona do euro nos últimos anos, com crise da dívida soberana, fragmentação financeira e amplas divergências no rendimento econômico”.

“Embora a eurozona esteja se recuperando agora, é preciso tomar mais medidas para expandir a carga de risco e os recursos fiscais”, afirmou.

“Uma união de moeda duradoura e bem-sucedida requer concessão da soberania nacional”, ressaltou o governador do Banco da Inglaterra.

Da mesma forma que na eurozona, uma união monetária entre uma Escócia independente e o Reino Unido iria requerer uma união bancária e tributária, supervisores financeiros comuns e uma entidade de aval e empréstimos de último recurso (neste caso, o Banco da Inglaterra), explicou.

Na opinião do líder da campanha contra a independência “Melhor juntos”, o ex-ministro trabalhista Alistair Darling, estes requisitos confirmam a necessidade da Escócia de permanecer no Reino Unido e invalidam os planos de Salmond.

“Por quê? Porque o objetivo da independência é romper a união fiscal e política que a união monetária torna possível”, declarou Darling.

O ministro de Finanças escocês, o nacionalista John Swinney, destacou que a decisão sobre a moeda “cabe aos dois governos” e insistiu que “beneficiaria os interesses econômicos tanto da Escócia como do resto do Reino Unido”.

Um porta-voz do Tesouro britânico disse que um acordo monetário seria improvável, vistos “os riscos de perda de soberania nacional, instabilidade financeira e a obrigação de oferecer apoio fiscal ao outro Estado em caso de resgate”.

“O governo escocês precisa de um plano B” para sua proposta de união monetária, segundo o porta-voz oficial britânico.

Os escoceses maiores de 16 anos vão votar no dia 18 de setembro deste ano para decidir se querem ou não se tornar independentes do Reino Unido. De acordo com pesquisas prévias, aqueles que se opõem ao projeto são maioria. EFE

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