Insegurança e divisão política rondam eleições iraquianas
Mohammed Siali.
Bagdá, 29 abr (EFE).- A ameaça terrorista e a divisão política estão marcando o pleito legislativo de amanhã no Iraque, que convocam mais de 20 milhões de eleitores para escolher o terceiro parlamento do país desde a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003.
A segurança é o desafio imediato que afronta esta eleição, apesar dos grandes preparativos da polícia e do exército, que lançaram planos especiais e instalaram postos de controle em diferentes cidades do país, sobretudo em Bagdá, para impedir qualquer ameaça terrorista.
Conforme pôde constatar a Agência Efe, as ruas da capital estão quase vazias de pedestres e veículos civis, e foram tomadas pelo exército e diferentes forças de segurança.
Além disso, várias lojas, restaurantes e cafés optaram por fechar as portas, inclusive no bairro nobre de Al-Jaderiya, conhecido por sua relevância comercial.
“Os iraquianos querem segurança”, disse à Agência Efe Iskandar al Hudal, um morador deste bairro onde vive uma população mista sunita e xiita. Ele acrescentou que podem “suportar a falta de trabalho e de moradia, mas não a falta de segurança”.
As autoridades da Aviação Civil do Iraque anunciaram hoje que todos os aeroportos não militares do país estão fechados desde a meia-noite de ontem até às 18h (horário local) (12h, em Brasília) da quarta-feira.
Os serviços de segurança de Bagdá informaram que os acessos e saídas da capital ficarão fechados a partir das 22h (horário local) de hoje (16h, em Brasília). Foi informado também que será proibida desde a mesma hora até o fim da votação a circulação de veículos na cidade.
Além disso, há dias os serviços de segurança bloquearam as ruas que levam aos colégios eleitorais, com um grande dispositivo policial e militar e, em várias ocasiões, até mesmo com forças especiais.
Apesar de todas as precauções, pelo menos, 26 homens das forças de segurança morreram e 90 ficaram feridos em ataques realizados ontem em diferentes centros eleitorais. Ontem, foi o dia da votação antecipada destinada a membros da polícia e do exército nestas eleições legislativas.
Se a segurança é o centro das preocupações da população, os políticos estão preocupados, por sua vez, com futuro da divisão de poder entre as distintas coalizões, sobretudo, entre as xiitas e sunitas.
Ontem, durante seu último discurso de campanha, o primeiro-ministro em fim de mandato, Nouri al-Maliki, cuja coalizão xiita Estado de Direito está como favorita no pleito, disse em entrevista divulgada pela televisão estatal “Al-Iraqiya”, que aposta em “um governo que se apoie em uma maioria parlamentar”.
Essa postura anuncia o fim da ideia do governo de união nacional, que se baseou no denominado acordo de Erbil assinado em 2012 nessa cidade pelas coalizões iraquianas, e que estipula, entre outras medidas, a divisão sectária das instituições do Estado, incluindo o Executivo.
A coalizão Estado de Direito e seu principal rival, a Aliança laica Al Iraqiya, dirigida pelo ex-primeiro-ministro Ayad Allawi, se apresentam para as eleições de maneira fragmentada. O objetivo é aproveitar os privilégios da nova lei eleitoral, que favorece mais aos grupos políticos menores.
Os principais blocos que se apresentam em nome da Al Iraqiya, como Al Wataniya e Mutahidun, assinalaram que têm a intenção de se unir para tentar formar o próximo governo.
Por sua vez, os eleitores, pela primeira vez na história do Iraque, utilizarão cartões eleitorais eletrônicos e sua identidade será verificada com um leitor de impressões digitais.
Segundo a comissão eleitoral, os dispositivos eletrônicos evitarão a falsificação, proporcionarão de forma rápida a porcentagem de participação e impedirão a prorrogação ilegal da jornada eleitoral, porque o sistema está programado para ser bloqueado na hora estabelecida pela comissão.
As eleições serão acompanhadas por 1.057 observadores internacionais, a maioria deles membros de delegações diplomáticas instaladas em Bagdá, e de 97.939 observadores locais, de acordo com dados da comissão eleitoral.
Além disso, 2.361 jornalistas locais cobrirão o acontecimento, junto a outros 1.155 correspondentes, a grande maioria deles iraquianos, que trabalham para uma centena de veículos da imprensa estrangeira. EFE
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