Insegurança se espalha pela Líbia às vésperas de eleições legislativas
Mohammed Abdelkader.
Trípoli, 20 jun (EFE).- A insegurança se alastra pela Líbia às vésperas das eleições legislativas da próxima quarta-feira, especialmente no leste do país, diante da impotência do governo para impor sua autoridade e de integrar as milícias armadas nascidas durante o levantamento contra o ditador Muammar Kadafi, em 2011.
Devido à gravidade da situação, a comunidade internacional fez soar os alarmes e vários países e organizações designaram enviados especiais para a Líbia, enquanto outros, como a Argélia e Arábia Saudita, optaram por fechar suas missões diplomáticas no país.
Uma sublevação armada, lançada em 16 de maio pelo general reformado Jalifa Hafter na cidade de Benghazi, a segunda maior da Líbia, semeou a confusão e o caos em todo o país, em um momento no qual dois governos, o que está deixando o poder, de Abdullah Al-Thani, e o que está chegando, de Ahmed Maitiq, rivalizam pelo poder.
Apesar da impetuosa revolta de Hafter, que afirma liderar uma campanha contra milícias radicais islâmicas e terroristas, ter perdido impulso, a incapacidade das autoridades ficou mais uma vez latente.
“Combatemos o terrorismo em nome do mundo”, afirmou o general Hafter na semana passada para uma televisão internacional árabe. O líder sustentou ainda que suas forças contam com muitos mais soldados agora do que no início do levante.
Após a eclosão de sua sublevação, batizada por ele de operação “Al Karama” (a dignidade), várias unidades do exército se uniram a suas fileiras, como as Forças Especiais e algumas bases aéreas da aeronáutica do leste do país.
Hafter, companheiro dos rebeldes durante o levantamento de 2011, também expressou demandas políticas a sua luta e exigiu a realização de eleições para renovar um parlamento que, segundo ele, “apoia o terrorismo”.
Por sua parte, o impotente governo de Al-Thani, que em 9 de junho foi ratificado como o Executivo legítimo pela Corte Suprema líbia, evitou condenar com dureza Hafter, mas pediu que toda luta contra o terrorismo seja conduzida pelas instituições legítimas do Estado.
“Benghazi é a primeira linha de defesa da Líbia e se cair, que Alá não permita, irão se desmoronar o restante das cidades, por isso nossa resistência em Benghazi significa muito”, disse Al-Thani em uma recente visita à cidade.
O primeiro-ministro interino, que desde o levantamento de Hafter expressou em várias ocasiões seu compromisso de combater o terrorismo, também prometeu oferecer todo o apoio material e logístico aos corpos de segurança leais para “resistir com toda a força e toda a determinação aos foras da lei”.
No final de maio, o enviado especial da União Europeia para a Líbia, Bernardino León, afirmou que a recente crise de segurança estava relacionada com a saturação da população diante da situação de ingovernabilidade do país.
“O que é importante não é quem é Hafter, mas o que representa. E para muita gente no país as diferenças entre as instituições, a falta de um governo efetivo e a demora na tomada de decisões importantes estão levando a população a dizer basta, e isto é o que Hafter representa para a maioria desta gente”, disse León durante sua estadia em Trípoli.
Desde o começo da transição política, em 2011, as autoridades foram incapazes de conter a onda de assassinatos e atentados que atingiu com especial virulência o leste do país.
Membros dos corpos de segurança, mas também juízes, advogados, ativistas, políticos, diplomatas, jornalistas e cidadãos estrangeiros foram vítimas de ataques, pelos quais as milícias islâmicas Alsar al Sharia são acusadas.
Esta situação, relacionada também às rivalidades no seio da Assembleia Legislativa e entre esta e o Executivo, agravou outros problemas já existentes no país.
A falta de combustível, os cortes de eletricidade em Trípoli e Benghazi, a continuidade do bloqueio há meses de vários poços e portos petroleiros e a piora da segurança em outras partes do país são questões que ameaçam a convivência e a estabilidade econômica.
Diante da degradação da segurança, da situação econômica e da crise política, as eleições de quarta-feira surgem como uma tábua de salvação para dar um renovado impulso à transição e o país recuperar a legitimidade das suas instituições. EFE
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