Inteligência emocional é aplicada contra jihadismo em Ceuta e Melilla

  • Por Agencia EFE
  • 19/01/2015 07h29

Sagrario Ortega.

Madri, 19 jan (EFE).- Com altas taxas de desemprego e de fracasso escolar, as cidades espanholas de Ceuta e Melilla são um celeiro para o recrutamento de jihadistas e, para prevenir o fundamentalismo entre os jovens mais desestruturados, a Universidade Camilo José Cela aplicará técnicas de inteligência emocional.

Essa universidade pôs há três anos essas técnicas a serviço de 180 menores vítimas do terrorismo no denominado “Campus da Paz” e que, diante dos bons resultados, quer transferir para outro âmbito, o da prevenção da radicalização islamita.

O reitor Eduardo Nolla explicou à Agência Efe que essa universidade trabalha na identificação de “perfis emocionais dos jovens suscetíveis a serem radicalizados, a fim de elaborar guias para o mundo da educação que contribuam para conter a barbárie terrorista”.

Um dos coordenadores do projeto, Ignacio Sell, assinalou que a universidade poderia iniciar no próximo curso letivo esse plano de prevenção do radicalismo entre os coletivos sociais e educativos de dois dos bairros marginais de Ceuta e Melilla, cidades espanholas no norte da África, na fronteira com o Marrocos.

“Trata-se de formar caráteres tenazes e dispostos a lutar contra os obstáculos, potencializar sentimentos positivos, educar no controle interno e na esperança… E tudo isso aprendendo a conhecer as próprias emoções, a controlá-las, a reconhecê-las nos demais e a se automotivar”, explicou Sell.

Recentemente, os promotores do projeto o apresentaram no Fórum Internacional contra o Terrorismo, realizado em Abu Dhabi.

A escolha de Ceuta e Melilla se explica por dados objetivos, que refletem um aumento dos índices de radicalização nos dois territórios.

Segundo a última pesquisa de População Ativa, o desemprego entre os com menos de 25 anos em Ceuta atinge uma taxa de 72% e em Melilla de 57%. Seus índices de fracasso escolar rondam os 40% na primeira região e 33% na segunda.

Além disso, 24% dos muçulmanos residentes na Espanha que viajaram para Síria ou Iraque para combater saíram de Ceuta.

Como foi evidenciado em algumas operações policiais, membros de “escritórios de ligação” de redes jihadistas frequentaram Ceuta para realizar seu trabalho de convocação e em busca de apoio financeiro.

Um bairro marginal de Ceuta conhecido como El Príncipe é “um fervedouro” de possíveis radicais dispostos a atender ao chamado da jihad na Síria.

No caso de Melilla, a seita ultrarradical Takfir wal Hijra aumentou sua influência, cujos membros estão legitimados a desrespeitar alguns preceitos do Corão (não beber álcool, não rezar ou não delinquir) para passarem despercebidos na sociedade ocidental.

São, além disso, comunidades muito fechadas nas quais a infiltração de agentes da luta antiterrorista é mais difícil; suas fronteiras não são fáceis de controlar, tendo em vista sua situação geográfica.

Os analistas advertiram também para outro perigo: entre os jovens dos bairros marginalizados ser fundamentalista reforça sua identidade e consciência de grupo.

Um contínuo aumento da população muçulmana nas cidades poderia contribuir para um maior radicalismo, já que os jihadistas contam com um universo maior para alistar novos adeptos, geralmente entre os jovens.

Segundo a Universidade, conter esse risco é uma tarefa difícil, mas pela educação e com técnicas de inteligência emocional pode ser possível no futuro.

“Educar na paz, na liberdade, na responsabilidade e na tolerância exige conhecer as diferentes dimensões sobre as quais operam os novos agentes do terror, assim como as ferramentas que empregam para influenciar os mais jovens”, disse o reitor da Universidade Camilo José Cela. EFE

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