Interligação da Billings com Alto Tietê inunda casas e é embargada

  • Por Agência Estado
  • 20/10/2015 10h35
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A inauguração interligação das Represas Alto Tiête e Rio Grande já havia sido cancelada no final de setembro após vazamento em adutora em Ribeirão Pires

Eduardo Carmim/Brazil Photo Press/Folhapress Interligação das Represas Alto Tiête e Rio Grande

Principal obra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para evitar o rodízio no abastecimento da Grande São Paulo, a transposição de água da Represa Billings para o Sistema Alto Tietê foi embargada pela prefeitura de Ribeirão Pires, no ABC paulista, após inundar ruas e fábricas da cidade e provocar a interdição de três casas pela Defesa Civil.

A suspensão do bombeamento foi determinada pela gestão do prefeito Saulo Benevides (PMDB), após fiscalização ambiental no Rio Taiaçupeba-Mirim, no dia 8 deste mês, oito dias após a inauguração da obra. O governo do Estado nega que haja embargo.

O problema, segundo o secretário do Meio Ambiente de Ribeirão Pires, Gerson Goulart, foi constatado após os primeiros dias de operação feita pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) com o bombeamento de metade dos 4 mil litros por segundo que seriam transferidos da Billings para o Alto Tietê. Na semana passada, a reportagem revelou que a transposição estava paralisada para obras de desassoreamento.

Goulart diz que o embargo que proíbe o bombeamento será mantido até que o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) conclua o aprofundamento da calha de trecho do Rio Taiaçupeba-Mirim – em agosto, o órgão anunciara ter gasto R$ 1,5 milhão na limpeza de dois quilômetros do canal – e a Sabesp apresente laudo de impacto da transposição na área atingida.

“Embargamos a obra porque ela estava alagando a parte de baixo da cidade, no distrito de Ouro Fino. Quando começou o bombeamento (no dia 30 de setembro), a encosta do barranco cedeu e provocou assoreamento do rio. Isso aumentou muito o nível do curso d’água e criou um problema enorme para a região. Os muros de três casas correm o risco de desabar”, afirma Goulart. Segundo o Auto de Infração Ambiental (AIA) aplicado à Sabesp no dia 8, os alagamentos aconteceram nas Ruas Planura e Sorocabana.

O secretário diz ainda que o acordo feito com o DAEE prevê que, após o término do desassoreamento do rio, a Sabesp voltará a bombear 1 mil litros por segundo para avaliar o impacto da transposição na região afetada. “Após a obra, vamos avaliar aos poucos o que vai acontecer junto com o DAEE. Mas se com 2 mil litros já aconteceu isso, imagine com 4 mil. Não acredito que o rio suporte tudo isso.”

Em nota, o governo Alckmin alega que o desassoreamento do local foi concluído no dia 9 e que, “diante do fato de não haver mais qualquer risco de prejuízo à população do município, a prefeitura formalizou à Sabesp a possibilidade de continuar o bombeamento”. Goulart afirma que desconhece a informação.

Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo constatou que o bombeamento estava paralisado para obras. Funcionários da empresa Jofege Pavimentação e Construção estavam colocando pedras para escorar o barranco, que estava desmoronando com a força da água bombeada. “Todas as vezes que eles ligaram as bombas, a água desceu arrastando tudo pela frente”, disse o representante comercial Sergio Leão, de 42 anos, vizinho da obra

Socorro

A transposição prevê o bombeamento de 4 mil litros por segundo do Sistema Rio Grande, braço da Billings que está cheio (85,4% da capacidade), para o Sistema Alto Tietê, que tem nível crítico (14,2%). A água captada percorre cerca de 11 km por uma tubulação construída pela Sabesp até ser lançada no Rio Taiaçupeba-Mirim, onde segue por mais 11 km até a Represa Taiaçupeba, onde fica a estação de tratamento do Alto Tietê. Segundo o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, essa é a principal ação emergencial para evitar o rodízio na capital.

O objetivo inicial da obra, anunciada por Alckmin em janeiro deste ano para ser concluída em maio, era aumentar a produção de água do Alto Tietê, que tem capacidade de 15 mil l/s mas tem produzido menos de 13 mil l/s por causa do baixo estoque das represas, para socorrer bairros da capital paulista que ainda dependem do Sistema Cantareira. O maior manancial paulista opera com -13,4% da capacidade, considerando o volume morto utilizado

Neste mês, contudo, a Sabesp encaminhou ofício ao DAEE e à Agência Nacional de Águas (ANA), gestores do Cantareira, pedindo para manter a exploração atual do sistema em novembro, porque ampliar a produção do Alto Tietê para socorrer o Cantareira “não é viável”. Por determinação dos órgãos reguladores, a retirada deveria ser reduzida de 13,5 mil l/s para 10 mil l/s porque haveria o reforço da transposição. O pedido foi aceito pelo DAEE, mas ainda está sob análise da ANA.

Secretaria nega problemas

A Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos negou, em nota oficial, que a transposição de água da Represa Billings para o Sistema Alto Tietê esteja embargada pela prefeitura de Ribeirão Pires. “A tubulação e o bombeamento executados pela Sabesp estão funcionando perfeitamente”, afirma.

Segundo a pasta, “por meio de ofício à Sabesp do dia 8 de outubro, a prefeitura de Ribeirão Pires solicitou a interrupção temporária do bombeamento para evitar refluxo de água na galeria pluvial, o que foi atendido prontamente”.

Ainda de acordo com a secretaria, foi constatado que a causa do refluxo era um assoreamento por erosão a cerca de 3 quilômetros do local de chegada da água transferida ao Rio Taiaçupeba-Mirim. “As providências foram tomadas imediatamente. No dia seguinte (9), o desassoreamento do local estava concluído e, diante do fato de não haver mais qualquer risco de prejuízo à população do município, a prefeitura formalizou à Sabesp a possibilidade de continuar o bombeamento”.

A pasta afirma que não houve extravasamento do rio. “Trata-se de situação corriqueira no início da operação de obras civis de grande porte”, afirma. “A solução definitiva é simples e já está sendo executada: o DAEE está reforçando o ponto em que a água chega (chamado dissipador de energia), diminuindo a energia com que a água entra no córrego, o que evitará novas erosões”, completa.

Segundo a secretaria, “o bombeamento não está paralisado” e “em questão de dias, alcançará sua força total”, de 4 mil litros por segundo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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