Irã punirá ataques a mulheres com ácido com a forca

  • Por Agencia EFE
  • 26/10/2014 17h18
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Ana Cárdenes.

Teerã, 26 out (EFE).- O Irã punirá os ataques de ácido com a forca, afirmou neste domingo o presidente do país, Hassan Rohani, após uma onda de agressões a mulheres que causou indignação no país e acusações aos setores mais radicais, zelosos de impor a “moralidade” nas ruas.

“Atos horríveis” e “incidentes desumanos que só podem ser perpetrados por uma pessoa má”, foram as palavras utilizadas por Rohani sobre a série de ataques com ácido ocorrida na cidade de Isfahan (que desfigurou quatro mulheres, segundo a polícia, e mais de uma dezena, de acordo com ativistas dos direitos humanos), na reunião semanal do Conselho de Ministros.

“O governo encarregou três ministérios (Inteligência, Interior e Justiça) de abordarem o assunto. Nossa gente deve saber que não haverá perdão e que usaremos todo nosso poder para garantir que os culpados sejam punidos. Estamos preparando uma lei junto com o Poder Judiciário para que quem cometa esse crime receba pena capital”, acrescentou.

O Irã tenta interromper estes ataques e apaziguar a indignação social com punições, promessas de mão dura e o controle dos meios de comunicação para aplacar as vozes que os relacionam com as “campanhas para promover a virtude e impedir o vício”, impulsionadas pelos setores mais radicais do país que querem controlar as roupas das mulheres para que sejam “suficientemente castas”.

Esta semana a polícia reprimiu várias manifestações convocadas na internet contra a intransigência dos extremistas e detiveram defensores dos direitos humanos e ativistas que condenaram os ataques nas redes sociais.

Antes destes ataques, que desfiguraram o rosto e provocaram graves danos a várias mulheres, alguns clérigos pediram em seus sermões que os fiéis fizessem cumprir o código de vestimenta islâmico em sua interpretação mais estrita, “chamassem a atenção” e “advertissem” as mulheres que o descumprissem.

Os representantes políticos dessas posições tentam aprovar no parlamento uma lei que promove a “vigilância moral” nas ruas e que protege quem se dedica a recriminar as mulheres.

Em setembro o grupo radical Ansar-e el Hezbollah anunciou que tinha organizado patrulhas populares em Teerã para controlar a moralidade, especialmente das jovens, mais relaxadas no cumprimento do hiyab, que exige cobrir todo o corpo, exceto rosto, mãos e pés.

Essas patrulhas de civis estariam destacadas nas ruas para corrigir as mulheres que estiverem com o cabelo ou os antebraços ligeiramente descobertos ou com a ampla camisola que cobre seus corpos justa demais.

O governo cortou rapidamente a iniciativa assinalando sua ilegalidade, mas os setores mais conservadores continuaram a insistir na necessidade de controlar mais a vestimenta das mulheres nas ruas.

Após os ataques de Isfahan, o destacado clérigo da cidade Mohamad Rahbar, que recentemente tinha pedido que advertissem as mulheres “incorretamente” vestidas, se viu obrigado a suavizar suas instruções e especificar que se referia a fazê-lo “com palavras, não com ácido”, e de maneira “afetuosa e cortês”.

As autoridades fazem o possível para impedir que essas campanhas e posições sejam consideradas causa dos ataques e advertiram que abrirão ações contra os meios de comunicação que relacionarem as duas questões.

O chefe do Poder Judiciário, aiatolá Sadeq Amoli Lariyani, hoje criticou duramente os veículos que fizeram essa correlação e pediu que “não se contamine o clima social”, especialmente em um momento no qual o parlamento debate uma lei para promover a virtude, informou a agência “Tasnim”.

“Qual é a conexão entre o iluminador e divino dever de promover a virtude e prevenir o vício e um crime de alguém que não tem a menor ideia sobre humanidade e fé?”, questionou.

O assessor de Cultura de Rohani, Reza Akrami, também acusou hoje que os que relacionam os ataques de ácido com o hiyab e a castidade de “criar discórdia” e “prejudicar a sociedade”, enquanto o presidente do parlamento, Ali Lariyani, pediu que não se politizem os ataques às mulheres.

“Este odioso fenômeno social está sendo usado como pretexto para fazer políticas, relacionando-o com a questão de impedir o vício e promover a virtude”, denunciou. EFE

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