Irritação e tosse são os principais problemas da nuvem de gás no Guarujá

  • Por Agência Estado
  • 15/01/2016 14h02
SP - VAZAMENTO/AMONIA/GUARUJÁ - GERAL - Incêndio no pátio de cargas do terminal alfandegado da Localfrio, na margem esquerda do Porto de Santos, em Guarujá, litoral sul de São Paulo. O fogo começou na tarde de ontem, quinta- feira (14). Um vazamento de gás seguido de incêndio atingiu um terminal de cargas empresarial no Guarujá e espalhou uma nuvem de produtos químicos sobre o litoral sul de São Paulo. O distrito de Vicente de Carvalho ficou isolado pela fumaça, que chegou até a cidade de Santos e provocou evacuação de casas e do cais. Até o início da noite, 39 pessoas haviam sido atendidas em postos de saúde. 15/01/2015 - Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO Clayton de Souza/ Estadão Conteúdo Homem anda de máscar no Guarujá para evitar contato com a nuvem tóxica

Especialistas da área de toxicologia dizem que os moradores do Guarujá, no litoral paulista, não precisam se desesperar com o vazamento de gás seguido de incêndio que atingiu na tarde dessa quinta, 14, um terminal de cargas empresarial no Guarujá e, com base nas informações preliminares sobre o vazamento, o ácido deve ser dissipado sem causar consequências mais graves, como queimaduras na população local.

“As pessoas não vão ser queimadas e isso não vai causar uma contaminação ambiental. Ninguém precisa entrar em pânico”, diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas.

Wong explica que apenas pessoas que estavam muito próximas do local de um vazamento dessa natureza costumam sofrer com as consequências do contato com a substância. “Quando tem um incêndio ou quando se joga água (no produto), ele libera mais cloro, o que vai causar a intoxicação, irritação, tosse, coriza. Mas o cloro evapora e a nuvem se espalha com o vento”, explica.

Segundo Daniel Junqueira Dorta, presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, as reações aparecem logo após a exposição ao produto. “A irritação é imediata, mais ou menos com os mesmos sintomas de quando uma pessoa tem contato com uma grande quantidade de água sanitária. A pessoa espirra, tosse, porque a substância irrita as vias aéreas e os olhos”, afirma o especialista, que também é professor de toxicologia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. A substância é utilizada, principalmente, para produção de desinfetantes para limpeza de piscinas.

A auxiliar de cozinha Letícia Mendes, de 24 anos, precisou sair de casa por causa da exposição à substância. “Por volta das 15h30, eu comecei a sentir um forte cheiro de cloro, mas achei que não fosse nada. Mas depois a fumaça começou a entrar em casa e ficou insuportável, tive dificuldade de respirar e os olhos ardiam muito”, comentou. Ela foi para a casa da mãe, que mora em outro bairro mais afastado.

Letícia contou ainda que o trânsito nos bairros próximos do terminal ficou congestionado porque os motoristas tinham dificuldade de visualização com a fumaça. “Era muito densa e a cidade estava um caos”, ressaltou.

Andreia Olivieri, de 41 anos, que mora a um quilômetro de distância do terminal no distrito de Vicente de Carvalho, disse que ventava muita na cidade na tarde de ontem, o que fez com que a fumaça se espalhasse para vários bairros. “Minha mulher é asmática e estava em casa o dia todo, ela sentiu um cheiro forte e passou mal. Fora o susto por não sabermos o que está acontecendo e o que deveríamos fazer.” Na noite de ontem, as duas permaneceram em casa com as janelas e portas totalmente fechadas.

Sair das imediações do vazamento é a primeira recomendação dos especialistas. “As pessoas podem lavar, tomar banho. O uso de água não vai tornar mais tóxico”, diz Wong.

Dorta explica que alguns grupos podem sofrer mais. “Em quantidades muito altas, os efeitos são mais pronunciados. Depende muito da capacidade de respiração de cada pessoa, mas crianças e idosos são mais suscetíveis, assim como pessoas com bronquite e asma. A gravidade varia de pessoa para pessoa, mas a longa exposição pode causar dificuldade de respiração e até levar à morte”, diz.

O toxicologista diz que, em hospitais, o atendimento aos pacientes é feito por meio de inalação de oxigênio quando o sistema respiratório é afetado.

Abrigo. Anderson Bernardes, secretário adjunto de Defesa Civil do Guarujá, disse estimar que cerca de 600 a 700 moradias, que ficam em um raio de 100 metros quadrados do terminal de cargas, precisaram ser esvaziadas.

“Ainda não sabemos por quanto tempo essas famílias terão de ficar fora de suas casas por segurança, mas recomendamos que elas se abriguem na casa de amigos ou parentes. Já estamos preparando um abrigo para aqueles que não tiverem aonde ir, caso seja necessário que passem a noite fora de casa”, afirmou ele.

Ainda segundo Bernardes, 45 pessoas foram atendidas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) Central e Boa Esperança. Elas relatavam sentir ardência na pele e nos olhos e dificuldade para respirar. Outras duas UPAs, que ficam próximas do terminal, foram fechadas por causa da fumaça. Pacientes de um pronto-socorro precisaram ser transferidos. “O Exército e a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp, que tem curso de Medicina no câmpus do Guarujá) estão nos cedendo médicos e enfermeiros para auxiliar neste momento.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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