Isaac Herzog, um “príncipe” pouco carismático decidido a destronar Netanyahu

  • Por Agencia EFE
  • 13/03/2015 21h33

Daniela Brik.

Jerusalém, 13 mar (EFE).- Isaac Herzog não se destaca por ser um político carismático, nem mesmo tem um glorioso passado militar, mas se postula como o próximo primeiro-ministro de Israel e alerta que acabará com os anos de “reinado” do até então todo-poderoso e atual detentor do cargo, Benjamin Netanyahu.

Líder do Partido Trabalhista de Israel desde 2013, Herzog soube reconduzir a legenda após anos em queda livre, colocando-a na primeira posição das pesquisas de intenção de voto para as eleições gerais do país na próxima terça-feira.

A recuperação se deve, em grande parte, à união com Tzipi Lvini, líder partido centrista Hatnuah, após ela ter sido destituída em dezembro do cargo de ministra da Justiça e negociadora-chefe com os palestinos por Netanyahu.

“Meu objetivo mais importante é substituir Netanyahu. Trato de vencer e vencerei, serei o próximo primeiro-ministro e não existe outra opção”, afirmou Herzog em recente entrevista à imprensa internacional, repetindo um mantra que as redes sociais ironizam e transformaram em viral.

Os setores mais radicais de Israel estão fazendo caricaturas de Herzog vestindo uma “kufiya” – uma espécie de pano usado na cabeça no Oriente Médio e ligado ao movimento nacionalista palestino depois de ter sido adotado pelo ex-líder Yasser Arafat. As imagens são reproduzidas por um popular programa televisivo de Israel, no qual o oposicionista é por uma criança que se esconde atrás de Livni, imitando sua voz nalasada.

Eles criticam as declarações do candidato, que pede diálogo com a Palestina. Chamam-no de covarde e acusam-no de não ter experiência em questões de segurança. Por isso, a população não deveria confiar em Herzog – nem em Livni – em situações de guerra.

No entanto, Herzog possui outras credenciais, sem as quais nunca teria chegado perto da vitória. Advogado de 54 anos, ele pertence a uma linhagem que une a aristocracia política, religiosa e militar, o que o transforma em um “príncipe” que, apesar da discrição, pela primeira vez tem possibilidades de conseguir o trono.

Consciente de sua liderança nos setores trabalhistas e que apesar do desgaste Netanyahu segue visto como um melhor candidato ao cargo, Herzog tenta mostrar aos eleitores outras qualidades.

Nas últimas semanas se esforçou para apresentar sua genealogia como uma marca única no terreno político, tentando minimizar as críticas sobre seu curto perfil militar. Tem alegado ter sido membro do gabinete de segurança em sete ocasiões e que, com a experiência de Lvini, ambos somam 15 passagens pelo órgão.

Nascido em Tel Aviv em 1960, é neto do primeiro grande rabino de Israel, Isaac Halevi Herzog, e filho de Chaim Herzog, general e chefe em duas oportunidades da inteligência militar, além de o sexto presidente da história do país. É também sobrinho do lembrado ministro das Relações Exteriores Abba Eban.

Com origens irlandesas e polonesas por parte de pai, a família materna de Herzog é de ascendência russa e se estabeleceu no Egito, onde foi obrigada a emigrar para Israel. Seu avô foi um dos engenheiros responsáveis pela construção do Canal de Suez.

Sua mãe, Ora, pioneira no meio ambiental, e uma de suas tias, foram as responsáveis pelo apelido “Bougie”, resultado da mistura da palavra “boneco” em hebraico e francês.

Não sem certo grau de timidez, revelou que esse segredo familiar foi estripado por Ehud Barak, o último chefe do governo trabalhista em Israel (1999-2001), a quem serviu como secretário.

Deputado desde 2003, Herzog foi ministro em cinco oportunidades entre 2005 e 2011, atuando nas pastas de Assuntos Sociais, Turismo, Construção, e Diáspora, Sociedade e Luta contra o Antissemitismo.

Morador do mesmo bairro onde nasceu em Tel Aviv, estudou nas universidades de Cornell e Nova York, quando seu pai era embaixador de Israel na ONU.

Quando voltou em 1978, se alistou no exército, formando-se como oficial no corpo de inteligência, antes de estudar direito em sua cidade natal e trabalhar no prestigiado escritório fundado por seu pai.

Casado e pai de três filhos, o candidato oposicionista defende uma agenda social e o diálogo com “os nossos vizinhos”, como costuma chamar os palestinos. A reunião mais famosa com o presidente Mahmoud Abbas ocorreu em Ramala, logo após ele assumir o comando do Partido Trabalhista, em 2013, quando mostrou seu apoio ao fim do conflito.

Embora prometa fazer o possível para restabelecer o processo de paz, alerta que antes observará a vontade dominante entre os palestinos para saber se eles querem seguir pelo caminho unilateral ou preferem conversar.

Outro de seus objetivos declarados é reparar as deterioradas relações com os Estados Unidos por causa do programa nuclear iraniano, questão na qual não tem opinião diferente de Netanyahu, mas sim na maneira de conduzir as negociações. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.