Isabel dos Santos, a multimilionária angolana dona da metade de Portugal

  • Por Agencia EFE
  • 23/11/2014 10h30

Óscar Tomasi.

Lisboa, 23 nov (EFE).- Ela quase não participa de atividades públicas, não costuma conceder entrevistas e pouco se sabe de sua vida pessoal. No entanto, a angolana Isabel dos Santos é considerada a mulher mais rica da África, com Portugal como principal campo de operações fora de seu país.

Filha do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, no cargo há 35 anos, Isabel já é uma das figuras com mais peso na economia portuguesa, com participações em múltiplas empresas de diferentes setores, do bancário ao energético, passando pelas telecomunicações.

Tamanho é seu poder que alguns já a tratam em Portugal como a nova DDT, a sigla para “Dona de Tudo Isto”, uma expressão utilizada no meio jornalístico luso para referir-se a Ricardo Salgado, antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), agora caído em desgraça.

A revista “Forbes” quantifica a fortuna de Isabel dos Santos em 3 bilhões de euros graças a seus investimentos, o que a situa na oitava posição na lista dos mais ricos do continente – a primeira entre as mulheres.

“É uma pessoa muito discreta, que não gosta muito de estar em público. Na maior parte de suas empresas tem pessoas encarregadas de dar a cara”, explicaram à Agência Efe membros da comunidade angolana em Lisboa conhecedores de sua trajetória.

Esse perfil contrasta com a espetacularidade de seu apetite investidor, cujo último exemplo aconteceu justamente em solo português.

Isabel dos Santos apresentou recentemente uma oferta de 1,21 bilhão de euros pela Portugal Telecom SGPS, uma empresa sem atividade operacional, mas com uma porcentagem relevante de ações na Oi, o que lhe permitiria ter voz e voto na companhia brasileira.

Aos 41 anos, em menos de duas décadas abandonou os estudos de Engenharia em Londres para gerir uma fortuna colossal.

Enquanto alguns a veem como um caso de sucesso empresarial, outros apontam seu pai como verdadeiro artífice de sua ascensão e a acusam de beneficiar-se de um regime tachado de “corrupto” por diferentes organismos internacionais.

Nascida no Azerbaijão do primeiro casamento de José Eduardo dos Santos, Isabel, a filha mais velha da família, foi criada em Luanda, onde também vive atualmente.

Casada com o congolês Sindika Dokolo, que define a si mesmo como homem de negócios e colecionador de arte, Isabel tem três filhos.

De volta à capital angolana após sua experiência britânica, começou sua trajetória nos negócios tornando-se sócia de um restaurante chamado “Miami”, com apenas 24 anos.

“O papel que desempenhava então era de relações públicas. Não havia muitos lugares na cidade de qualidade e eles aproveitaram esse vazio, se transformou em uma referência gastronômica, com música ao vivo e exposições”, lembrou um jornalista angolano residente em Portugal.

Seus defensores consideram que seu império começou a tomar forma com sua entrada na empresa de telecomunicações Unitel, hoje uma gigante na Angola com vontade de se transformar em uma das grandes operadoras do continente.

“Sempre teve bom olho para investir no momento adequado. Quando o mercado internacional quase não olhava para Angola, decidiu apostar na Unitel, que em pouco tempo cresceu enormemente pela expansão da telefonia celular e da internet”, destacou outra fonte.

Depois vieram seus negócios na área petrolífera, setor no qual entrou capital português. As relações criadas então facilitaram seu salto a Lisboa.

Só em Portugal conta com participações na companhia petrolífera Galp, no Banco Português de Investimentos (BIS) e na empresa de telecomunicações NOS, três símbolos da antiga metrópole.

Além da Unitel – presente em outras nações de língua portuguesa como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe -, possui também ações do banco angolano BIC e lhe atribuem participações em companhias do setor dos diamantes e do petróleo, duas áreas fundamentais para seu país.

Angola, antiga colônia lusa, cresceu na última década com força, embora apresente “elevados índices de pobreza”, nas palavras do próprio presidente José Eduardo dos Santos.

O país é considerado o segundo maior produtor de petróleo de toda África e tem uma grande riqueza natural, mas continua sendo um dos países com menor expectativa de vida do mundo (55 anos) e apresenta elevadas taxas de mortalidade infantil.

Entidades como a ONG Transparência Internacional e Human Rights Watch denunciam a corrupção no país e acusam seu presidente de impedir o desenvolvimento de uma democracia real.

Tudo isso faz com que os ambiciosos investimentos de Isabel dos Santos levantem certas suspeitas em Portugal entre alguns setores.

Por enquanto, a deterioração nas relações entre os dois países – de domínio público – não parece afetar os negócios da “princesa angolana”, como é conhecida em seu país natal. EFE

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