Islamitas debilitados pela repressão lembram aniversário de massacre no Egito

  • Por Agencia EFE
  • 14/08/2014 17h21
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Imane Rachidi

Cairo, 14 ago (EFE).- O primeiro aniversário do brutal desmantelamento dos acampamentos islamitas no Cairo foi lembrado nesta quinta-feira com mais mortes e detenções, em meio à forte repressão que debilitou a Irmandade Muçulmana durante o último ano.

A Irmandade denunciou que quatro de seus seguidores morreram por disparos em protestos no Cairo, enquanto um sargento da polícia também perdeu a vida depois que desconhecidos abriram fogo contra ele na capital.

As autoridades egípcias conseguiram erradicar ou silenciar os islamitas até tal ponto que poucos saíram hoje às ruas para lembrar o que há um ano aconteceu no Egito, um massacre que acabou com a vida de mais de 800 pessoas.

Em 14 de agosto de 2013, a polícia egípcia abriu fogo e entrou à força para desmantelar os acampamentos das praças de Rabea Al Adauiya e Al-Nahda, que pediam a volta ao poder do presidente Mohammed Mursi, destituído no mês anterior pelo Exército.

O atual presidente e então ministro da Defesa, Abdul Fatah al Sisi, liderou o golpe contra o governo islamita e o qualificou de “revolução de 30 de junho”, a segunda depois da de 2011, que acabou com a presidência de Hosni Mubarak.

“Hoje não vimos essa gente que estava nos acampamentos, mas os poucos protestos que ocorreram hoje só provocarão dificuldades na reconciliação nacional, porque a Irmandade Muçulmana insiste em usar a violência”, considerou à Agência Efe o analista do centro “Al-Ahram”, Yosri Azbaui.

Em previsão das manifestações convocadas sob o lema “O castigo é nossa reivindicação”, em alusão à falta de uma investigação sobre o massacre, as autoridades do Egito aumentaram hoje as medidas de segurança no Cairo.

Os islamitas asseguraram em comunicado que os protestos foram “grandes” desde Alexandria (norte) até Assuã (sul), e lamentaram que foi registrado de novo “um brutal ataque policial” contra suas manifestações.

Os islamitas também denunciaram a morte de quatro pessoas hoje por ferimentos de balas e balas de chumbo no Cairo, entre outras “atrocidades cometidas pelas autoridades golpistas”.

Por sua vez, uma fonte dos serviços de segurança explicou à Agência Efe que um suboficial da polícia perdeu a vida e outro ficou ferido em um ataque de supostos islamitas em um posto policial no distrito de Heluan.

O Ministério do Interior anunciou a detenção de 114 seguidores da Irmandade nos protestos.

Os acessos à emblemática praça Tahrir foram fechados com 24 veículos militares e com arame farpado e barreiras metálicas.

“Não acho que os egípcios tenham se esquecido do que ocorreu nesse dia, mas os cidadãos não querem mais derramamento de sangue, como está ocorrendo no Iraque, Síria, Iêmen e Líbia”, advertiu o analista Azbaui.

Após um ano de repressão policial sobre a Irmandade, declarada organização terrorista pelas autoridades interinas no final do ano passado, a maioria de seus líderes estão presos ou fora do país, por isso que “tem as cabeças cortadas”, segundo Azbaui.

A organização defensora dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) publicou na segunda-feira um relatório que critica a atuação policial durante o desmantelamento das duas praças e responsabilizou pelas mortes diretamente Al Sisi e o ministro do Interior, Mohammed Ibrahim.

O governo criticou “a falta de neutralidade” do relatório. “Rejeitamos qualquer forma de intervenção estrangeira, direta ou indireta, nos assuntos egípcios”, reagiu hoje em entrevista à imprensa o secretário-geral do partido islamita Al Nour, Jalal Mart.

Em um novo golpe de efeito, Al Sisi destituiu hoje o juiz Walid Sharabi de um tribunal do norte do Cairo por “pertencer à Irmandade Muçulmana”, o que o impediria de voltar a exercer em outro órgão judicial.

Sharabi é considerado um dos símbolos da oposição contra o golpe de Estado que destituiu Mursi, embora não esteja filiado oficialmente à organização islamita.

Segundo a imprensa egípcia, o magistrado assegurou após conhecer a notícia que “é bom que um delinquente tenha tomado esta decisão no primeiro aniversário do Holocausto que cometeu”. EFE

ir/ff

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