Israel lança ofensiva contra denúncias de crimes de guerra em Gaza
Elías L. Benarroch.
Jerusalém, 12 ago (EFE).- Israel começou a se preparar para enfrentar as denúncias internacionais pelas supostas violações dos direitos humanos durante a operação Limite Protetor na Faixa de Gaza e garantiu que “não tem nada a temer”.
“Do ponto de vista jurídico, o Estado de Israel pode ficar tranquilo”, afirmou para a Agência Efe o vice-procurador-geral militar Eli Bar On, que prometeu que todas as denúncias apresentadas serão investigadas por várias comissões em Israel.
Assim como a Procuradoria Militar, os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça estão empenhados em buscar provas relacionadas com a ofensiva, que causou a morte de quase 2 mil palestinos, entre eles pelo menos 456 crianças e 237 mulheres, segundo fontes médicas na Faixa de Gaza.
Os preparativos começaram antes da operação, muito antes de a Autoridade Nacional Palestina (ANP) iniciar suas consultas para levar Israel à Corte Internacional de Justiça (CIJ), conforme anunciou no último sábado seu ministro das Relações Exteriores, Riad al-Maliki.
As denúncias para investigar possíveis crimes de guerra foram apresentadas por ONGs internacionais, governos estrangeiros e o Conselho da ONU para os Direitos Humanos, que já anunciou os integrantes da comissão que vai averiguar o caso.
Israel, que rotulou essa decisão de “farsa”, defende a atuação de suas tropas frente ao que considera uma política dupla do Hamas de “usar os civis (palestinos) como escudo e atacar os civis (israelenses)”, a seu entender, um “crime de guerra duplo”.
Como prova, o Exército revelou um “manual de combate” do Hamas, encontrado em Shayahie, no qual, segundo porta-vozes militares, há instruções sobre como usar a população civil para “complicar” as coisas para o inimigo.
Além disso, existe a “concentração deliberada” de lançamentos de foguetes em locais próximos de alvos sensíveis como escolas, hospitais e instalações internacionais.
“Nosso mapa inclui mais de 2 mil alvos sensíveis e não é nenhuma casualidade que ao compará-lo com os lançamentos de foguetes é possível ver uma notória concentração ao redor desses alvos, há uma clara metodologia”, destacou Bar On.
Ao tentar explicar os 25 ataques de seu país contra escolas, entre elas uma da UNRWA (a agência da ONU para refugiados palestinos), e outros alvos notoriamente civis, afirmou que o “Hamas atua de forma cínica e maliciosa”.
Sem entrar em números sobre quantos civis morreram (“ainda é cedo para termos o dado definitivo”, disse, apesar de o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários – OCHA – calcular que são pelo menos 1,4 mil), o vice-procurador-geral militar argumenta que as medidas de precaução do Exército israelense “não têm precedente em nenhum outro Exército”.
Os avisos através de mensagens sms, e-mails, ligações telefônicas, TV e imprensa eliminaram o “fator surpresa”, algo que, disse, “nenhum outro Exército está disposto a fazer” e que “custou a Israel as vidas de dezenas de militares”.
A discussão sobre os civis mortos foi reiniciada há poucos dias pelo “New York Times” e a “BBC” depois que foi detectada uma anomalia estatística em uma análise comparativa do número de vítimas.
Segundo esses estudos, os homens com entre 20 e 29 anos, a idade mais propicia para a militância armada, representam apenas 9% da população de Gaza, mas 34% dos mortos.
Da mesma forma, as mulheres e crianças menores de 15 anos, que naturalmente costumam ser os menos afetados nos conflitos, representam 71% da população da Faixa de Gaza, mas entre o percentual de vítimas são somente 33%.
Bar On, que disse “lamentar qualquer morte de civis”, garantiu que em Gaza o índice de vítimas civis por cada miliciano morto é um dos mais baixos do mundo, e propôs que os mesmos fossem comparados com os de outros conflitos, inclusive a intervenção da Otan no Kosovo.
Na ofensiva para refutar as denúncias de ataques indiscriminados, o Ministério das Relações Exteriores israelense publicou em seu site as imagens de várias emissoras internacionais nas quais é possível ver o lançamento de foguetes nas áreas urbanas, entre eles um a 100 metros de um edifício onde tremulava a bandeira da ONU.
“Estamos em terra completamente firme”, afirmou Bar On, que acredita que qualquer investigação internacional é “desnecessária” porque todo o aparato jurídico de seu país – civil e militar – vai averiguar, por lei, até a última das denúncias. EFE
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