Israel trata de separar libertação de Jonathan Pollard do acordo com o Irã

  • Por Agencia EFE
  • 27/07/2015 13h39
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Elías L. Benarroch

Jerusalém, 27 jul (EFE).- Israel trata de separar a possível libertação do ex-espião Jonathan Pollard, que pode ocorrer ainda neste ano, de sua taxativa oposição ao acordo nuclear com o Irã, dois espinhosos assuntos que se interpõem em suas relações com os EUA.

Políticos e ativistas tratam de desvincular ambas questões não só pelas repercussões políticas em nível interno em cada país, mas também porque o governo israelense não quer que a possível libertação do espião seja apresentada como uma “compensação” e, com isso, acabam com as esperanças dos republicanos de votarem contra o acordo quando chegar ao Congresso.

“Certamente não há nenhuma conexão entre a libertação de Pollard, que é um questão de misericórdia e justiça, e o mal acordo com o Irã, que é um assunto existencial e de segurança”, disse nesse sentido o deputado do partido centrista Kulanu (membro da coalizão de governo), Michael Oren, ex-embaixador israelense em Washington.

A polêmica em torno deste assunto começou na sexta-feira por causa de uma informação do “Wall Street Journal” sobre que os EUA não porá obstáculos quando Pollard se apresentar em novembro perante a Comissão de Liberdade Condicional, ao completar 30 anos de seu encarceramento.

O caso de Pollard, um antigo analista de Inteligência da Marinha, detido em 21 de novembro de 1985 pelo FBI por entregar fotografias secretas à inteligência israelense, foi levado perante a Casa Branca por todos os primeiros-ministros israelenses desde Yitzhak Rabin (1992-1995).

No entanto, umas vezes por razões políticas, outras legais ou por oposição dos organismos de inteligência americanos, os sucessivos pedidos para ser libertado -nos últimos anos já por razões humanitárias devido a seu delicado estado de saúde- foram rechaçados um após outro.

Nas últimas duas décadas, deputados israelenses de direita e esquerda apelaram a Washington em favor de Pollard e, segundo distintas fontes, seu caso chegou a fazer parte de diferentes compromissos indiretos dentro do processo de paz israelense-palestino.

O jornal israelense “Yedioth Ahronoth” informou neste sentido que no começo do ano passado o ex-agente deveria ter sido libertado dentro dos mecanismos arrumados por Washington para colocar israelenses e palestinos na mesa de negociação, mas a interrupção do processo em março impossibilitou essa libertação.

Agora, fontes israelenses confirmam que Pollard sairá da prisão, mas negam que suponha uma “compensação” pelo pacto nuclear com o Irã e insistem que a libertação foi decidida há três semanas em um procedimento judicial habitual de revisão de pena e sem que o governo israelense ou o americano se envolvessem de modo algum.

O deputado Nachman Shai, da coalizão opositora União Sionista e presidente do comitê do parlamento para a libertação de Pollard, considerou que o espião “não é uma carta política e relacioná-lo com o pacto com o Irã e a libertação de prisioneiros árabes é ridículo, vergonhoso e humilhante”.

“Chegou o momento de libertá-lo. Ganhou sua liberdade por direito”, destacou, ao lembrar que trata-se do agente que mais tempo esteve em uma prisão americana por um crime de espionagem a favor de um país amigo.

O caso Pollard, que em 1996 obteve a nacionalidade israelense, fez tremer os alicerces das relações entre os países em meados dos anos 80 pela particularidade de um país pequeno ter um agente infiltrado em seu principal aliado militar e fonte de apoio político, apesar de que as informações entregues por ele não eram sobre os EUA, mas sobre países do Oriente Médio.

Não menos impactante foi seu caso para a comunidade judaica dos EUA, formada por mais de cinco milhões de pessoas, que temeu uma onda de acusações de deslealdade similar à suscitada em 1950 com o processo judicial dos espiões Julius e Ethel Rosenberg, que revelaram os segredos da bomba atômica à URSS, por isso que foram condenados à morte e executados em 1953.

Minimizando a relação entre ambos processos, Alistair Baskey, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, explicou que “o nexo entre o status de Pollard e considerações de política externa é zero”.

Assim afirmou também no domingo a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, que esclareceu que se ocorrer a libertação, ela acontecerá sob as prerrogativas da legislação americana da época na qual foi detido e não por razões políticas.

Uma das questões que são analisadas ainda em Israel é se Pollard foi libertado, poderá se radicar no Estado judeu, onde seria recebido como um herói, algo que pode desagradar Washington, segundo fontes governamentais israelenses. EFE

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