Israelenses esterilizam moscas com radiação nuclear para salvar plantações

  • Por Agencia EFE
  • 18/07/2015 15h44
  • BlueSky

María Sevillano.

Jerusalém, 18 jul (EFE).- Um pequeno kibutz no norte de Israel se tornou exportador de um curioso produto para o mundo todo: milhões de moscas da fruta esterilizadas com radiação nuclear para combater pragas agrícolas.

Sde Eliyahu, ao norte da Cisjordânia e perto da fronteira com a Jordânia, seria mais uma entre as muitas comunidades de organização comunal dessa região dedicadas aos cultivos agrícolas, se não fosse pelo pequeno reator nuclear de apenas dois metros que fica na BioBee, a empresa sediada no kibutz, que é proprietário de uma parte dela.

O equipamento é utilizado para uma produção peculiar: moscas esterilizadas após segundos de exposição nuclear para salvar plantações de maneira natural e evitar o uso de agrotóxicos.

“Nossa empresa se dedica à produção de insetos benéficos para o controle biológico” como ácaros, pequenas vespas e besouros polinizadores, além da mosca da fruta, explicou à Agência Efe Yesurun Pleser, diretor comercial da BioBee para a América Latina, uma região para a qual a empresa pretende se expandir.

O projeto começou três décadas atrás como resultado das divagações de dois entusiastas dos insetos, moradores dessa pequena comunidade israelense, que buscaram e encontraram uma maneira de obter benefício, tanto econômico como social, de sua paixão.

O que fazer com esses insetos? Como explorar os benefícios quando um “animal bom se alimenta de outro ruim”? Que substâncias químicas usar? Estas perguntas, assim como o fenômeno do controle biológico, foram as bases sobre as quais se articulou o que, pouco a pouco, se perfilou como uma empresa pioneira no setor, que, de um pequeno kibutz, opera hoje em mais de 30 países.

A ideia-chave do controle biológico de pragas como insetos, ácaros e ervas daninhas, entre outros, se sustenta na utilização de organismos vivos que interferem ou atuam sobre a praga como um parasita.

Como o número de “controladores” que existem de maneira natural não são suficientes para limitar a expansão e reduzir a presença da praga, empresas como a BioBee vêm tentando reproduzir o curso da natureza para diminuir o uso dos pesticidas.

Em algumas ocasiões, a BioBee consegue isso através da introdução de algumas remodelações no ciclo vital, como ocorre com seu produto principal, a mosca da fruta esterilizada.

“Ao invés de produzir ou criar o antagonista da praga, criamos a própria praga. A mosca é a praga e nós a criamos. Eliminamos as fêmeas, selecionamos os machos e os esterilizamos com radiação nuclear”, contou Pleser, que acrescentou que sua empresa é capaz de produzir entre 50 milhões e 100 milhões de pupas do inseto por semana em suas instalações.

Depois, os machos são transportados para o local em que o cultivo é arrasado por seus congêneres. Eles são libertados maciçamente e, por serem muitos, têm muitas possibilidades de fecundar as fêmeas. Então, o ovo fecundado pela mosca estéril é posto e fica sobre a fruta.

“Assim, a população na plantação diminui e a fruta não sofre danos. E, mais uma vez, conseguimos diminuir o uso de agrotóxicos”, sintetizou o diretor da BioBee.

Além de reduzir o uso de pesticidas, os danos ao cultivo, o risco de contaminação no consumidor final e o combate contra a resistência da praga aos pesticidas, o controle biológico também ajuda a poupar o uso de água nas plantações – uma economia estimada em até 75% – o que o transforma em uma alternativa atraente para os agricultores.

A Croácia foi um dos últimos clientes a optar pelos serviços desta empresa, que começou empregando os moradores do kibutz e tem agora mais de 200 trabalhadores apenas em Israel, além de filiais em Rússia, Chile, Colômbia e Índia.

Cerca de 400 milhões de moscas israelenses inférteis foram transferidas até a fronteira entre Sérvia e Croácia após ganhar um concurso promovido pela própria Agência Internacional da Energia Atômica, que financia parte do projeto por seu interesse em “promover o uso da energia nuclear para fins pacíficos”, afirmou Pleser.

Seu segredo em relação a outras empresas similares: “controlar com perfeição os fatores climáticos na produção de insetos. Sua vida e seu metabolismo estão muito ligados à temperatura e à umidade”, disse Pleser.

“Estamos crescendo, buscamos como oferecer melhores soluções para o manejo de cultivos para o benefício de todos”, comentou o diretor, que também revelou, com certo orgulho, que encontrou um concorrente, uma nova companhia israelense que se lançou ao mercado após se inspirar na trajetória da BioBee. EFE

mss/rpr/rsd-cd

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.