Itália clama por ajuda europeia para combater imigração em massa no sul
Cristina Cabrejas.
Roma, 12 mai (EFE).- A Itália clama por ajuda europeia para enfrentar a chegada em massa de imigrantes, com abrigos superlotados, prefeitos sem saber como administrar este problema e com crescentes críticas aos custos da operação de resgate Mare Nostrum.
A situação de emergência levou inclusive o ministro do Interior, Angelino Alfano, a “ameaçar” permitir que os imigrantes que chegam à Itália deixem o país em direção ao norte da Europa.
“A Europa tem que assumir a defesa das fronteiras italianas que são também fronteiras europeias, ou aos imigrantes que chegarem em nosso país diremos: quer ir para a Suécia, a Alemanha ou outro país do norte da Europa? Permissão concedida”, ameaçou Alfano.
Em outubro a Itália iniciou uma operação de patrulha e salvamento no Canal da Sicília, faixa de mar que separa o norte da África da Itália, para evitar tragédias como a dos 366 imigrantes que morreram em um naufrágio a poucas milhas da ilha de Lampedusa.
Nestes meses, graças à operação, conhecida como Mare Nostrum, 27.790 imigrantes foram socorridos, 3.034 deles menores, explicou nesta quarta-feira no Parlamento a ministra da Defesa, Roberta Pinotti.
No relatório apresentado para a comissão parlamentar de Defesa e Exteriores, o diretor central da Polícia de Fronteiras, Giovanni Pinto, advertiu que há “800 mil pessoas esperando na África para chegar à Europa”.
“O sistema de amparo aos imigrantes está colapsado. Não temos mais lugares para levá-los e os residentes locais começam a não tolerar a contínua chegada de imigrantes”, acrescentou Pinto.
Diante da emergência, a associação que reúne as prefeituras italianas (ANCI) convocou uma reunião para amanhã, terça-feira, em que pedirá ao governo mais recursos e melhor estrutura.
Enquanto isso os prefeitos sicilianos, os mais afetados pela chegada em massa de imigrantes, exigiram a convocação urgente de uma reunião com o ministério do Interior. Eles se queixam do modo como o ministério enfrenta a emergência na distribuição de imigrantes que chegam ao país nos abrigos.
O prefeito de Modena e responsável pelo setor de segurança e imigração da ANCI, Giorgio Pighi, criticou esta semana que o Interior “se movimente de maneira autoritária” sem consultar as regiões e os municípios.
Pighi denunciou que o ministério costuma dividir 50 imigrantes por província, e que a província de Modena, que sofreu inundações e terremotos no último ano e tenta refazer sua vida cotidiana, agora não sabe como acolher os quase mil imigrantes alocados ali.
Não há dia que não se localize uma embarcação com imigrantes no Canal da Sicília e a falta de vigilância permitia no passado que eles chegassem à ilha siciliana de Lampedusa, mas agora com navios e fragatas patrulhando o litoral são interceptados antes de chegarem à costa.
A bordo de navios da Marinha são transferidos aos portos sicilianos de Pozzallo e Augusta, que se transformaram nos novos cenários do drama da imigração.
Na Sicília estão atualmente 17 mil imigrantes em abrigos, e as prefeituras dizem não saber onde colocar mais gente.
Associações humanitárias denunciaram as condições que os imigrantes são obrigados a viver. A ministra Pinotti explicou que dois terços dos imigrantes que chegam a Itália pelo mar têm direito a pedir asilo e não podem ser repatriados.
Isso significa um custo para o cofres públicos, além da operação de vigilância do Mediterrâneo, e custa à Itália 9,3 milhões de euros ao mês.
“O Mare Nostrum é uma operação que tem prazo. A Europa tem que assumir sua responsabilidade. O Mediterrâneo não pode ser só nosso, se a Europa tem coração precisa entender que no Mediterrâneo está sendo jogado o desafio de sua dignidade”, ressaltou Pinotti. EFE
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