Itália improvisa campos de refugiados por fechamento de fronteiras europeias
Cristina Cabrejas.
Roma, 14 jun (EFE).- Barracas, espaços comerciais e até túneis formam os “campos de refugiados” improvisados que a Itália instalou para abrigar as centenas de imigrantes que ficaram bloqueados no país após o fechamento das fronteiras dos países vizinhos.
São centenas de imigrantes, a maioria da Eritréia e do Sudão, que chegaram de barco desde a Líbia e ficaram presos na Itália, onde não querem ficar, com destino a uma Europa que não os quer.
Essa situação foi criada pelo fechamento do espaço europeu de Schengen até amanhã, 15 de junho, devido a já finalizada cúpula do G7, realizada na Alemanha, que fez os países que fazem fronteira com a Itália – França, Áustria e Alemanha – impedissem a passagem de imigrantes.
Há dias eles vagam pelas estações das principais cidades italianas à espera de pegar o trem que os levará para Suécia, Alemanha ou França, onde encontrarão seus familiares, e cuja passagem pagaram com um enorme esforço que os deixou sem dinheiro.
Outra centena deles passou a noite no dique do porto de Ventimiglia, cidade da região italiana de Ligúria que faz fronteira com a França, depois de a Gendarmaria francesa ter impedido que a atravessassem.
Embora com atraso, após dias de polêmica, as autoridades italianas se mobilizaram para criar improvisados campos de refugiados em Ventimiglia e nas proximidades da estação Tiburtina de Roma e da Central de Milão.
Desde esta noite os chamados “cubos”, fora da estação Central de Milão, foram alugados como espaços comerciais, destinados a dar cobertura às centenas de imigrantes que até agora passavam o dia no interior da estação ou na praça e nos jardins próximos.
Alguns preferiram continuar dormindo na rua, explicou um dos voluntários que leva comida a estas pessoas, que acredita se tratar de uma estratégia para identificá-los.
Pelo menos nestes espaços as organizações humanitárias e os voluntários puderam se organizar para dar três refeições aos imigrantes.
“Sei que não são lugares ideais, mas a Estação colocou à nossa disposição estes espaços e estas pessoas precisam de uma solução”, explicou o vereador de Políticas Sociais da prefeitura de Milão, Pierfrancesco Majorino.
Em Roma, a prefeitura e a Cruz Vermelha instalaram um acampamento com uma grande barraca com capacidade para até 150 pessoas e serviços higiênicos, onde a noite os imigrantes homens passaram, enquanto as mulheres e as crianças foram levadas para um abrigo.
Mas a última e mais representativa imagem da repercussão de fechar as fronteiras é a de Ventimiglia, onde quase cem imigrantes foram rechaçados na fronteira com Nice.
Alguns deles buscaram abrigo no interior de um túnel por causa da chuva que caiu ontem, e um grupo de 40 pessoas passou a noite no dique do porto, protegidos por cobertores isotérmicos, em protesto.
Embora a prefeitura de Ventimiglia tenha instalado serviços higiênicos e organizações e os próprios moradores da cidade levem comida e roupa aos imigrantes, afirmaram que a situação começa a ser preocupante, pois continuam a chegar imigrantes que têm a França como destino.
Esta situação levou o primeiro-ministro do Interior a ameaçar hoje em entrevista na televisão que a Itália “mudará de comportamento se a Europa não for solidária, pois não aceitará uma Europa egoísta”.
O presidente do governo italiano, Matteo Renzi, considerou “insuficiente” e “quase uma provocação” a proposta da Comissão Europeia de distribuir somente entre 24 mil sírios e eritreus entre os Estados-membros, e ainda com a oposição de muitos deles.
Tanto Renzi como Alfano explicaram que estão preparando “um plano B” sobre imigração caso a Europa não queira ajudar.
A expectativa é que as fronteiras sejam abertas amanhã e esses imigrantes conseguirão ir para seus países de destino encontrar suas famílias. EFE
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