Japoneses já não votam pensando em Fukushima
Ramón Abarca.
Tóquio, 12 dez (EFE).- A reativação das usinas nucleares três anos depois do acidente de Fukushima é uma das questões que mais divide os japoneses, mas, ainda assim, este espinhoso assunto ficou de fora da campanha das eleições do próximo domingo.
Os estragos do acidente da central de Fukushima, assolada por um terremoto e um tsunami em março de 2011, seguem latentes. Milhares de pessoas ainda evacuadas, enormes perdas econômicas na região e os responsáveis da usina imersos em um desmantelamento custoso e problemático.
O medo vivido durante a crise e os devastadores resultados permanecem na mente dos japoneses. As últimas enquetes mostram como 60% se opõem à reativação dos 52 reatores cujas operações ficaram suspensas após o acidente.
“Apesar de estar claro que as usinas nucleares não são necessárias, o governo se empenha em reativá-las. O terremoto e o tsunami deram uma oportunidade ao Japão de mudar sua estratégia energética, mas mesmo assim os políticos decidiram se aferrar às centrais para nos manter no poder”, explicou à Agência Efe Daisuke Fujisawa, um ator residente em Tóquio.
Depois da crise de Fukushima e por causa dos temores sobre a segurança das usinas nucleares, o Executivo japonês decidiu em maio de 2012 deixar a provisão deste tipo de energia em zero pela primeira vez em quatro décadas.
Embora nesse momento houvesse consenso em torno de abrir mão de uma energia da qual o Japão dependia em 30%, o atual governo, com a desculpa de reativar a economia, aprovou uma nova regulação que permitirá a reabertura de algumas das centrais.
Um total de 17 reatores em 10 usinas nucleares de todo o país estão sendo submetidos a inspeções para determinar se cumprem com os novos requisitos de segurança e as primeiras centrais podem entrar em funcionamento no ano que vem.
Embora esta aposta para recuperar a energia nuclear não seja do agrado da maioria dos japoneses, não parece que irá afetar o apoio ao Partido Liberal-Democrata (PLD), formação do atual primeiro-ministro, Shinzo Abe, que parte como favorita para o pleito antecipado, que será realizado na metade de seu mandato.
“A energia nuclear não foi uma parte central da campanha. O povo se mostra contra o fato das centrais voltarem a funcionar, mas esta atitude não se reflete diretamente no voto”, comentou Masamichi Ida, professor de Ciências Políticas da Universidade Meiji.
Neste sentido, Meiji explicou que este é um assunto que pode ser bastante técnico, enquanto temas como a economia e a alta do IVA estão mais próximos do dia a dia dos eleitores.
As enquetes parecem confirmar ideia, já que o PLD, que apoia abertamente a volta à energia nuclear, contaria com um respaldo de entre 25% e 30%.
Outras formações como o Partido Democrático (PD) e o Partido Comunista, com posturas mais frontais contra a energia atômica, não se aproximam nem de longe desses números.
“Fukushima nos fez ver os riscos da energia nuclear e a necessidade de buscar alternativas. Sou a favor de que o Japão vá abrindo mão de maneira paulatina desse tipo de energia e as centrais vão sendo fechadas segundo vão ficando velhas”, opinou à Efe Yuzo Kiyono.
Este ex-diplomata reconhece, no entanto, que quando votar no domingo, sua preocupação principal será a recuperação econômica do Japão.
Precisamente, o alto custo energético que representa para o Japão as importações de ingentes quantidades de hidrocarbonetos para centrais térmicas, o que contribuiu para afundar seu saldo comercial, é o fator principal para defender a política do governo.
“O governo japonês tem que ter pressa para reativar as usinas nucleares que são consideradas seguras. O blecaute nuclear está aumentando nosso déficit de maneira em massa”, disse à Agência Efe Masafumi Fukuda, assistente de produção de 33 anos.
Este eleitor do PLD assegura, além disso, que a imprensa japonesa quer tornar este assunto politicamente mais importante do que é, mas “na realidade o que preocupa o povo na hora de votar é a economia”.
Caso revalide sua vitória no próximo domingo, o conservador Abe se sentirá não só com um respaldo a suas políticas econômicas, mas também como uma carta branca dos japoneses para que siga adiante com sua aposta na energia nuclear. EFE
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