Jornalista do “The New York Times” expulso do Afeganistão quer voltar

  • Por Agencia EFE
  • 27/08/2014 21h23

Washington, 27 ago (EFE).- O jornalista americano do “The New York Times” Matthew Rosenberg, que foi expulso na semana passada do Afeganistão, assegurou nesta quarta-feira que quer voltar para seguir informando em um momento-chave para esse país, com o resultado eleitoral ainda por definir.

“Eu gostaria de voltar. Após seis anos, perder este evento final me parece louco, mas já já veremos o que irá acontecer”, disse em um encontro no Clube Nacional de Imprensa em Washington, no qual afirmou que não se arrepende de ter escrito o artigo pelo qual foi expulso.

Rosenberg recebeu no último dia 20 a notificação de que deveria abandonar o país em 24 horas, após as autoridades afegãs terem se negado a zelar pela identidade das fontes anônimas que informaram que no Executivo desse país era tramada a formação de um “governo interino”.

“É uma diminuição ser expulso do país por uma história que foi publicada na página sete, mas acontece”, brincou o repórter.

O diretor-executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth, defendeu em mensagem divulgada nesta semana que não supõe uma “espionagem” um jornalista publicar um artigo sobre uma ameaça de golpe de estado.

O jornalista tinha fontes contrastadas e inclusive um funcionário do governo pediu desculpas pela expulsão, mas a ordem veio tarde demais, assegurou.

“O presidente (Hamid) Karzai queria, segundo o que nos disseram, que fossem tomadas providências, portanto elas foram tomadas”, assegurou.

Karzai disse em comunicado na semana passada que artigos como o publicado pelo jornalista do “The New York Times” “não deveriam ser permitidos”, pois supõem atos “de conspiração e interferência estrangeira com o objetivo de desestabilizar Afeganistão”.

O embaixador americano no Afeganistão, James Cunningham, se reuniu com Karzai na quinta-feira e emitiu um comunicado no qual qualificou a expulsão de “lamentável passo para trás para a liberdade de imprensa”.

Apesar do jornalista reconhecer que é preciso saber se movimentar para conseguir a informação, considerou seu caso como algo “excepcional” já que, segundo sua opinião, o respeito pela liberdade de imprensa no Afeganistão nestes anos “foi enorme”.

“É uma das conquistas verdadeiros destes 13 anos”, assegurou Rosenberg.

No entanto, “a segurança e nossa capacidade de fazer nosso trabalho depende muito da disposição dos que estão no poder”, assegurou o jornalista, que se mostrou confiante que os dois candidatos “estão comprometidos com a ideia de uma “Imprensa Livre””.

O Afeganistão está imerso em uma crise política desde que Abdullah Abdullah se negou a aceitar o resultado da apuração preliminar de votos do segundo turno presidencial realizada em 14 de junho, que dava como vencedor seu oponente Ashraf Gani, com um respaldo de 56,4%.

Abdullah ameaçou abandonar a corrida presidencial e criar um governo paralelo porque assegurava que tinha ocorrido uma “fraude em escala industrial” preparada por Gani, pelo saliente presidente Karzai e pela Comissão Eleitoral afegã.

No entanto, graças à mediação do secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, os dois candidatos alcançaram um acordo pelo qual será auditado 100% dos 8,1 milhões de votos depositados e se criaria, após conhecer os resultados, um governo de união nacional liderado pelo vencedor.

Mas a apuração, que começou em 17 de julho, avança muito devagar devido às diferenças entre as equipes de Abdullah e Gani com relação aos parâmetros a seguir na hora de invalidar ou não uma cédula, o que paralisou em várias ocasiões a auditoria.

O resultado trará a primeira transição desde que Karzai assumiu o poder nas urnas em 2001 e após a intervenção americana para derrubar o regime talibã, em um ano no qual a Otan abandonará definitivamente solo afegão. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.