José Antonio Llorente: políticos deveriam valorizar mais a comunicação

  • Por Agencia EFE
  • 23/05/2015 15h23
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Clara Hernández.

Madri, 23 mai (EFE).- José Antonio Llorente, presidente da consultora Llorente & Cuenca, reconhece que os políticos deveriam valorizar mais a comunicação, porque apesar de lhe dedicare tempo, têm “inércias” de alguns anos atrás, algo que, em sua opinião, “não funciona na sociedade de hoje”.

Com mais de 30 anos dedicados ao mundo da comunicação, Llorente afirmou em entrevista à Agência Efe que na Espanha “se comunica bem, mas se poderia fazer melhor”.

Ele acaba de publicar seu primeiro livro, “El octavo sentido”, no qual analisa a importância das habilidades comunicativas na sociedade atual.

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Agência Efe: O que o levou a escrever este livro?

Llorente: Tenho mais de 30 anos dedicados ao mundo da comunicação, tempo suficiente para fazer uma reflexão sobre o que aconteceu e o que temos pela frente. Recorri ao “oitavo sentido” porque é difícil nos referir hoje a tudo o que representa a atividade de comunicação. O termo ficou curto. Antes, comunicar era sinônimo de informar, e agora representa escutar e entender o entorno. Hoje em dia, não é eficiente em uma sociedade que é muito plural e tem acesso a variadas fontes de informação.

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Efe: O senhor acredita que na Espanha se comunica bem?

Llorente: Na Espanha se comunica bem, mas poderia se comunicar melhor. A sociedade está à frente das instituições quanto a facilidade e capacidade de comunicação. É fácil de entender, porque a tecnologia está pondo nas mãos das pessoas uma capacidade enorme de comunicar. As instituições são estruturas que levam um pouco mais de tempo para se movimentar, mas estamos caminhando na direção correta e, sem dúvida, estão fazendo um esforço grande para se colocar em dia.

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Efe: O senhor considera que os líderes políticos espanhóis deveriam valorizar mais a comunicação?

Llorente: Sim, acredito que sim. O mundo político está muito pendente daquela visão da comunicação que era informar. Vejo com frequência que os políticos tentam resolver os problemas de comunicação colocando-se diante de uma câmera e dizendo algo pensando que é o que vai resolver o problema. Acho que é preciso escutar e entender o que as pessoas querem.

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Efe: É possível comunicar a verdade, sendo político, sem recorrer à demagogia?

Llorente: É imprescindível. O que acontece é que hoje os mecanismos de formação da opinião pública são mais complexos, e os cidadãos têm um peso muito relevante. Então, a ação política tem que estar conectada com os cidadãos. Mas há quem tente conseguir essa confiança à base de demagogia: “vou dizer algo sensacional, as pessoas votam em mim e depois vamos ver o que fazer”. É um risco de nosso sistema.

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Efe: Que diferenças de comunicação o senhor encontra entre as campanhas dos diferentes partidos?

Llorente: Há diferenças, mas não são relevantes em relação ao público em geral. Todos enfocam sua campanha na figura dos líderes e fazem anúncios sobre o que vão fazer. Vivemos uma tendência na qual os políticos tendem a não dizer concretamente o que vão fazer porque pode representar um problema. Em geral, estão demais preocupados com o que têm que fazer para que ganhem votos e menos com o que é preciso fazer. É um equívoco, porque hoje em dia a comunicação requer consistência.

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Efe: Que acertos os políticos têm?

Llorente: Os políticos em geral são pessoas muito entregues à função de comunicação, dedicam muito tempo e estão muito focadas no trabalho. Mas trazemos inércias de alguns anos atrás, e as coisas estão mudando muito rápido. Os políticos têm boas intenções, mas têm tiques de cinco ou dez anos, e isso não funciona na sociedade de hoje.

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Efe: Acredita que a crise do jornalismo afetou a qualidade de informação?

Llorente: É uma história que se retroalimenta. O jornalismo e os conteúdos de qualidade têm um grande futuro, as pessoas precisam de informação de qualidade e bem apurada. A crise criou uma fenda nesse modelo, como em outros, e colocou muita pressão sobre os custos, eliminou algumas vias de financiamento das empresas jornalísticas e pôs em perigo o eixo fundamental do produto: a informação de qualidade.

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Efe: Os veículos de imprensa souberam se adaptar às novas tecnologias?

Llorente: Não, é uma tarefa pendente. Não é um defeito dos veículos, é que os avanços que estão ocorrendo não dão margem para que uma estrutura bem definida e estabelecida seja modificada substancialmente em muito pouco tempo. Falta muito para ser feito. EFE

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