José de Anchieta: espanhol, apóstolo do Brasil, patrono de São Paulo e santo
Rio de Janeiro, 3 abr (EFE).- O jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597), declarado santo pelo papa Francisco nesta quinta-feira, é conhecido como o apóstolo do Brasil por seu trabalho evangelizador e humanitário no país, sendo venerado especialmente em São Paulo, da qual foi um de seus fundadores.
Nascido no dia 19 de março de 1534 em Tenerife, nas Ilhas Canárias, o religioso ingressou na Companhia de Jesus em 1550 e, após três anos de noviciado, foi enviado às missões jesuítas no Brasil, país no qual desembarcou em julho de 1553, quando tinha 20 anos, e morreu em 1597, aos 63.
Apesar de ser espanhol, toda sua obra religiosa e literária está vinculada ao Brasil, onde sua canonização era pedida desde que o país era uma colônia de Portugal. Além do título de apóstolo do país, Anchieta também aparece como patrono de São Paulo.
Embora tenha chegado à costa de um ainda não explorado estado de São Paulo, em plena colonização de um país no qual os portugueses haviam chegado apenas 50 anos antes, para catequizar os índios, Anchieta não só cumpriu sua missão, mas também aprendeu o tupí, escreveu a primeira gramática da língua indígena e traduziu obras portuguesas para que os índios pudessem desfrutá-las.
Anchieta é venerado por seu importante papel humanitário, já que teria defendido os índios de diversas tentativas de escravização por parte dos colonizadores portugueses. Anchieta foi um dos primeiros a tomar posição no debate da época sobre se os habitantes originais da América tinham alma ou não.
Para facilitar a evangelização no interior do Brasil, Anchieta e seu companheiro jesuíta Manoel da Nóbrega fundaram um colégio no dia 25 de janeiro de 1554, o qual deu origem a um povoado que acabou batizado – pelo próprio Anchieta – como São Paulo.
O Colégio de São Paulo, após várias reconstruções, ainda é conservado como marco de uma cidade que não só representa a pujança do Brasil, mas um caldeirão de raças e de imigrantes.
O novo santo da Igreja Católica também se estabeleceu em São Vicente, onde se dedicou exclusivamente ao trabalho com índios e à alfabetização dos noviços que ingressaram na Companhia de Jesus.
Em 1577, em reconhecimento de seu importante papel no Brasil, Anchieta foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no país.
Além de sua tarefa evangelizadora, o jesuíta também é reconhecido por sua obra literária como autor de poesias, cartas e autos, todas marcadas por conceitos morais, espirituais e pedagógicos – como a própria gramática do tupí, escrita em 1559.
Apesar dos jesuítas defenderem sua canonização há quase quatro séculos, o processo se paralisou quando a Companhia de Jesus foi expulsa de Portugal e de suas colônias em 1760.
No entanto, esse processo foi reaberto em 1877, enquanto a sua beatificação foi anunciada em 1980, às vésperas da primeira visita do papa João Paulo II.
Agora, depois de mais de 30 anos e com a chegada de outro membro da companhia ao trono de São Pedro, os brasileiros já podem chamar de santo o “padre Anchieta”. EFE
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