Jovens de várias etnias convivem por um futuro de paz no Burundi
Sol Carreras.
Bujumbura (Burundi), 7 jul (EFE).- A cada dia, 3 mil burundineses de várias etnias e religiões vão ao centro juvenil de Kamenge, um dos bairros mais pobres da capital Bujumbura, onde entre aulas de informática, jogos de futebol e debates sobre política, aprendem a conviver em paz, conscientes de que são a “força” do país.
Dezenas de bandeiras com as cores do arco-íris e a palavra paz escrita em francês dão as boas-vindas para quem chega ao centro de Kamenge, criado há 22 anos, pouco antes de começar a guerra civil entre hutus e tutsis nesta antiga colônia belga e que durou 12 anos, até 2005.
Meninos de entre 16 e 30 anos das duas principais etnias do país e de diferentes religiões se misturam neste local, administrado pelos missionários e financiado pela organização Mãos Unidas, onde, além de aulas e atividades, dividem a esperança de construir um futuro unidos e enterrar definitivamente a violência que os marcou quando crianças.
“Se estamos juntos e temos ideias claras poderemos ajudar o país”, afirma com convicção Alphonse Nibishaka, de 30 anos.
Alphonse começou a frequentar o centro logo após o fim da guerra e, agora, formado em administração, colabora como animador no projeto de paz e reconciliação, que organiza atividades esportivas e culturais para motivar outros rapazes de sua idade que, em sua opinião, são a “força” do Burundi.
As atividades não param no centro de Kamenge. Na entrada, um grupo de jovens conversa no corredor enquanto dezenas de estudantes folheiam livros e revistas na biblioteca, uma das maiores do país, com mais de 20 mil obras, e localizada em frente ao salão de jogos, repleto de totós e mesas de pingue-pongue.
Em uma das salas do andar de cima um grupo de jovens aprende informática e, a poucos metros, outros desfrutam de uma sessão de cinema em um quarto escuro, sentados em cadeiras de plástico em frente à TV.
Do lado de fora, os mais esportistas praticam basquete e vôlei. E no campo de futebol há um punhado de espectadores nas arquibancadas, onde a cada dia são projetados em telão as partidas da Copa do Mundo.
“Eu torço pela Holanda”, conta um menino com entusiasmo.
Atualmente, 42.600 jovens estão inscritos no centro de Kamenge, que oferece aos sócios todas as atividades de forma gratuita.
O lugar é um ponto de encontro que se transformou em “território de todos”, segundo o responsável pelo centro, o padre Claudio Marano.
“Não há tensão, eles aceitam vir junto com outros jovens”, explica.
A atmosfera de paz contrasta com a das ruas dos seis bairros vizinhos, ao norte da capital, com uma população de mais de 200 mil habitantes, que vivem em condições muito precárias.
Longe de permanecer isolado de seu entorno, o centro organiza atividades com os moradores dessas comunidades, como shows e campanhas de prevenção à aids, um dos principais problemas que afetam a região, junto com o analfabetismo.
Além disso, no verão os jovens que frequentam o centro Kamenge têm a oportunidade de aprender o ofício de pedreiro e a cada ano constroem cerca de 180 casas para as famílias locais.
“Estou muito contente de estar aqui e poder ajudar os vizinhos”, comenta Igomokelo Michel, de 17 anos, que ao lado de um grupo de jovens começou a fincar os alicerces de uma futura casa, rodeado de dezenas de crianças que os observavam com curiosidade.
Há duas semanas o centro de Kamenge conta com um novo projeto: uma emissora de rádio que alterna música, debates, programas infantis e humorísticos, e que vai ao ar graças à ajuda de dois técnicos e 21 animadores.
Trata-se de mais uma tentativa de normalizar o dia a dia dos moradores de Bujumbura, especialmente de seus jovens, que não escondem sua inquietação com a realização das eleições gerais em 2015.
Jovens que acreditam que, se conseguirem estimular a convivência e o espírito crítico, o conflito não voltará a acontecer. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.