Julgamento por linchamento de jovem que queimou Corão começa no Afeganistão

  • Por Agencia EFE
  • 02/05/2015 11h34
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Cabul, 2 mai (EFE).- O julgamento pelo linchamento da jovem Farkhonda, acusada de queimar um Corão, começou neste sábado em um Tribunal de Cabul com 49 pessoas citadas a prestar depoimento, incluídos 19 policiais por suposta negligência, em um caso que gerou vários protestos dentro e fora do Afeganistão, informaram fontes judiciais.

Cerca de 30 pessoas são acusadas de assassinato e de queimar o corpo da mulher de 27 anos, que depois foi lançado no rio Cabul, em 19 março perto do santuário de Shah-Do-Shamshira no centro da capital afegã, disse o promotor Hamidullah Qaser.

Entre elas estão um policial, um soldado e dois membros de pessoal de segurança que supostamente participaram do linchamento, enquanto o resto são em sua maioria vendedores ambulantes.

Os 19 policiais foram culpados por negligência em seu trabalho de segurança na zona em que a jovem foi linchada por uma multidão.

O presidente do tribunal, Safiullah Mujadidi, escutou as acusações contra dez pessoas e decidiu continuar amanhã com os testemunhos de oficiais do Ministério do Interior afegão e da Polícia de Cabul.

Embora a princípio Farkhonda foi acusada de queimar uma cópia do Corão, as investigações posteriores concluíram que a jovem tinha sido vítima do “obscurantismo” dos fabricantes de talismãs (uma sorte de videntes ou espiritistas) do santuário, que incitaram o povo a matar a mulher porque os denunciou.

O linchamento de Farkhonda provocou vários protestos, sobretudo de grupos de mulheres, que foram encarregadas de levar no enterro o caixão da jovem, algo pouco comum em um país islâmico como o Afeganistão.

Perante a pressão social, o presidente afegão, Ashraf Ghani, constituiu uma comissão de investigação integrada por líderes religiosos, parlamentares e ativistas pelos direitos da mulher para investigar os detalhes de um fato que foi condenado, entre outros, pelas Nações Unidas e organizações civis.

Depois do fato, o governo afegão proibiu as atividades desses grupos “obscurantistas” em todo o país. EFE

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