Justiça da Irlanda do Norte critica religiosos por não ajudar em investigação

  • Por Agencia EFE
  • 27/01/2014 16h08

Dublin, 27 jan (EFE).- O tribunal especial encarregado da maior investigação pública desenvolvida no Reino Unido sobre abusos a menores na Irlanda do Norte criticou nesta segunda-feira as ordens católicas da província por sua cooperação deficiente com as pesquisas.

A advogada que representa o tribunal, Christine Smith, mencionou às freiras das Irmãs de Nazaré por demorarem a entregar às informações que ela qualificou, além disso, de “desordenadas e fragmentadas”.

Christine lembrou que todas as partes citadas para participar do processo tiveram meses para oferecer a documentação requerida sobre os supostos casos de abusos cometidos em instituições da Irlanda do Norte executados por religiosos e organismos estaduais entre 1922 e 1995.

Conhecida como Investigação sobre Abusos Institucionais Históricos (HIA), as sessões públicas começaram no último dia 13. O grupo deve examinar durante os próximos 18 meses 263 denúncias apresentadas desde que o governo autônomo da Irlanda do Norte anunciou o estabelecimento deste tribunal especial em 2012.

No dia seguinte, as Irmãs de Nazaré e os Irmãos da Salle, também católicos, pediram perdão pelos abusos a menores que estiveram sob seus cuidados durante o século passado em centros de amparo da região.

No entanto, advogada que representa o tribunal afirmou hoje que o “lento” e “pouco sincero” proceder das freiras tem “gerado consideráveis dificuldades no trabalho do tribunal”.

“Esta congregação não é a única que, com sua atuação, criou problemas”, lamentou Christine.

Durante a sessão de hoje, ela apresentou 49 depoimentos de algumas pessoas que residiram nas duas casas de amparo que as Irmãs cuidavam na cidade de Derry, no noroeste da Irlanda do Norte.

A advogada disse que nos dois centros foram cometidos abusos sexuais e físicos contra menores. Além disso, eles também eram obrigados a comer o próprio vômito, apanhavam por urinar na cama, e tinham que tomar banho com desinfetante.

Segundo a advogada, as crianças eram identificadas por números, em vez do nome; tinham os presentes de Natal e outros objetos pessoais recolhidos, e eram obrigadas a trabalhar no campo ou em lavanderias.

A representante do tribunal citou hoje um relatório elaborado em 1953, pela inspetora do governo Kathleen Forrest, no qual já se alertava sobre as condições subumanas em que os menores viviam.

“O estado dessas casas é totalmente deprimente, e me horroriza pensar que centenas de crianças estão sendo criadas em um ambiente sombrio e carente de amor”, dizia o texto.

O governo da Irlanda do Norte decidiu abrir uma investigação independente depois que a vizinha República da Irlanda revelou que nos últimos anos milhares de crianças sofreram abusos sexuais, físicos e emocionais desde início do século XX. EFE

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