Justiça “encolhe” a maior chacina da história de São Paulo

  • Por Estadão Conteúdo
  • 12/08/2016 08h47
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SP - ATO FAMILIARES VÍTIMAS CHACINA DE OSASCO/PAULISTA - GERAL - Familiares das vítimas da Chacina de Osasco, realizam ato silencioso no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira (12). Organizado pela ONG Rio de Paz, o ato lembra um ano da chacina e tem o objetivo de chamar a atenção da Justiça para que esses crimes não sejam silenciados sem punição aos acusados. 12/08/2016 - Foto: J. DURAN MACHFEE/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO DURAN MACHFEE/ESTADÃO CONTEÚDO ONG Rio de Paz promove ato no vão livre do Masp lembrando um ano da matança que vitimou no mínimo 19 pessoas na Grande SP

Um ano depois da maior chacina da história do Estado, em 13 de agosto, o número de vítimas da ação diminuiu para a Justiça de São Paulo. No processo que tramita no Tribunal do Júri de Osasco consta que 17 pessoas foram assassinadas e três policiais militares e um guarda-civil foram os responsáveis pelas execuções – outras cinco pessoas ficaram feridas. Duas outras mortes ocorridas na mesma data foram atribuídas a traficantes da região oeste e excluídas da ação penal pela chacina.

São réus no processo os policiais militares Victor Cristilder Silva dos Santos, Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain e o guarda municipal Sérgio Manhanhã. Todos estão presos. As investigações do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e da Corregedoria da Polícia Civil concluíram que os acusados, ao lado de outros policiais militares e guardas-civis metropolitanos não identificados, quiseram vingar a morte do cabo da PM Ademilson Pereira de Oliveira, assassinado no dia 8, em Osasco, e do GCM Jefferson Rodrigues da Silva, vítima de um latrocínio no dia 12 daquele mês, em Barueri.

Na denúncia à Justiça, os promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirmam que os réus formavam uma milícia que oferecia segurança privada a comerciantes da área onde aconteceram os crimes, “mas passaram a extrapolar os limites da segurança privada, para exercer verdadeira atividade de organização paramilitar, milícia particular, grupo e esquadrão, dispostos a praticar crimes em nome da segurança, especialmente crimes de homicídio”. Os promotores dizem também que “o grupo nutria ainda sentimentos de repúdio especialmente aos responsáveis por delitos praticados contra agentes do Estado”. “Não se tratava de sentimentos normais, mas exacerbados e que alimentaram o desejo de exercer vingança e mostrar poder.”

O promotor Marcelo Alexandre de Oliveira conta com provas técnicas, testemunhais e circunstanciais para acusar os réus. O PM Eleutério foi reconhecido por uma testemunha que sobreviveu aos ataques. Ele alega que estava na casa da namorada e, no horário em que aconteceram os ataques – das 20h às 22h30 -, teria trocado mensagens por WhatsApp com sua advogada.

Segundo as investigações, porém, durante os ataques ele apenas recebeu as mensagens, mas não respondeu. Já o GCM Manhanhã e o PM Cristilder trocaram mensagens suspeitas depois dos assassinatos. O PM mandou um “sinal de positivo” para o amigo, que respondeu com outro e também com um emoticom mostrando um braço forte. Eles alegam que falavam sobre um livro de Direito que o guarda emprestaria ao policial. Já Henklain também foi reconhecido por uma testemunha. “A chacina foi motivada por vingança. Isso está claro, tudo foi muito bem orquestrado e organizado pelos réus”, disse Oliveira.

O advogado Abelardo Júlio da Rocha, que defende o GCM Manhanhã, disse que o seu cliente é inocente e a investigação foi “uma resposta política e nada mais que isso”. O advogado José Carlos Campanini, defensor do policial Cristilder, afirmou que a investigação foi malfeita, por causa da pressa em dar uma resposta à sociedade. “Quem deveria estar preso não está.” A advogada Flavia Artilheiro diz que o álibi de Eleutério “foi confirmado em juízo”. A defesa do PM Henklain não respondeu ao pedido de entrevista.

Conforme as investigações, nenhum dos 19 mortos – incluindo os dois retirados da ação penal – tinha relação com os assassinatos dos agentes de segurança. Nesta sexta os familiares das vítimas da chacina fazem um protesto na frente do vão do Masp, na Avenida Paulista. Eles cobram providências das autoridades em relação à punição dos envolvidos.

Pré-chacina

Uma “pré-chacina” com seis homicídios em Osasco, Carapicuíba e Itapevi, na Grande São Paulo, que aconteceu cinco dias antes dos crimes, ficou de fora da contagem da Justiça. Em outubro, a Secretaria da Segurança Pública chegou a somar as execuções, chegando a 23 mortos. Agora, os casos tramitam em processos diferentes.

Um dos mortos era Diego Siqueira Pereira, de 27 anos, alvejado dez vezes na Avenida Sport Club Corinthians Paulista, em Osasco. No momento do assassinato, ele estava com uma sacola de latinhas, que venderia para reciclagem, e R$ 4,20. A possibilidade de os crimes cometidos na “pré-chacina” estarem relacionados aos ataques do dia 13 começou a ser investigada após denúncia da Ouvidoria da Polícia.

Nem todos os casos, na mesma época, foram incluídos nas investigações, por não se ver relação com a chacina. “Era indispensável que todos os casos fossem incluídos”, reclama o ouvidor Júlio César Neves, destacando que outros quatro homicídios em Osasco estão sem solução. “Os casos que não estão sendo divulgados pela mídia ficam no esquecimento”, diz o ouvidor.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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