Kerry pedirá um governo dialogante em visita surpresa ao Cairo
Washington, 22 jun (EFE).- O secretário de Estado americano, John Kerry, pedirá neste domingo durante sua visita surpresa ao Cairo ao novo presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, que mantenha uma atitude dialogante com a Irmandade Muçulmana e em geral uma liderança que inclua a todos no processo político.
“Achamos que em termos gerais o governo egípcio necessita de uma atitude política muito inclusiva, o que implica em encontrar formas de dar a mão a Irmandade Muçulmana”, disse em declarações aos jornalistas que acompanham Kerry um funcionário do Departamento de Estado que pediu anonimato.
A escala no Egito se manteve em segredo até o último momento e faz parte de uma viagem pelo Oriente Médio e Europa na qual Kerry concentrará grande parte de seus esforços na busca de uma solução para a instável situação no Iraque.
Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, que ganhou nas eleições de maio, liderou a derrocada militar do islamita Mohammed Musi e iniciou uma perseguição contra a Irmandade Muçulmana, declarada uma organização terrorista, o que desencadeou a morte de muitos de seus seguidores e membros.
O funcionário americano ressaltou que Washington não compartilha a opinião do governo egípcio de que a Irmandade Muçulmana tenha vínculos com grupos terroristas como Ansar Beit al-Maqdis.
“Não temos informação que corrobore esse tipo de vínculo. Pedimos aos egípcios que compartilhem essa informação conosco se a têm, mas neste momento não temos tal informação”, ressaltou.
Além da reunião com Al-Sisi, Kerry deve se reunir hoje no Cairo com seu colega egípcio Sameh Shukri, assim como com o líder da Liga Árabe, Nabil Elaraby.n Durante estes encontros, Kerry insistirá no desejo dos EUA de que Egito tenha sucesso na difícil transição democrática.
A visita do chefe da diplomacia americana acontece após o tefefonema do presidente Barack Obama a Al-Sisi em 10 de junho. Durante a conversa, o presidente americano expressou sua vontade de trabalhar conjuntamente com o novo líder egípcio e de continuar a longa relação estratégica com o país.
Funcionários do Departamento de Estado anteciparam que Kerry comunicará hoje sua preocupação pelo atual ambiente político no Egito e referirá concretamente à morte de jornalistas e ativistas e à falta de espaço para dissentir. Ele expressará também seu descontentamento com as recentes sentenças e penas de morte maciças.
Os EUA dizem ver alguns sinais na direção correta, como a libertação nesta semana de Abdullah Shami, jornalista da rede de televisão “Al Jazeera”, assim como a chamada de Al-Sisi à revisão da lei de direitos humanos no Egito. As ameaças de segurança que Egito enfrenta figurarão também nas conversas hoje no Cairo.
“Reconhecemos que o Egito enfrenta um desafio de segurança sério. Os respaldamos e queremos ajudá-los a enfrentar a ameaça terrorista colocada por grupos como Ansar Beit al-Maqdis. Reconhecemos que têm um problema sério no Sinai”, afirmou o Departamento de Estado.
A visita de Kerry é a primeira de um alto responsável americano desde que Al-Sisi tomou posse como presidente, em 8 de junho. As relações entre Washington e Cairo esfriaram desde o golpe militar que depôs o presidente islamita Mursi em julho do ano passado.
Os EUA decidiram congelar uma parte dos US$1,3 bilhão de ajuda militar que fornecem anualmente ao país, embora no final de abril tenham anunciado que relaxariam a suspensão. As condições impostas por Washington se centravam em que Cairo caminhasse firme rumo à democracia e realizasse eleições transparentes, segundo expressou Kerry.
Após sua escala no Cairo, ele deve viajar para Amã para se reunir com seu colega jordaniano, Nasser Judeh, e abordar o conflito no Iraque. Posteriormente, irá a Bruxelas, onde se concentrará nos preparativos da cúpula da Otan de setembro e na crise na Ucrânia.
A última escala de sua viagem de cinco dias o levará a Paris, onde se reunirá com parceiros-chave não especificados, com os quais abordará os desafios à segurança no Oriente Médio que geram sangrentos conflitos na Síria e Iraque, antecipou nesta semana o Departamento de Estado. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.