Kerry se reúne com dissidentes e pede avanços nos direitos humanos em Cuba

  • Por Agencia EFE
  • 15/08/2015 00h19

Lucía Leal.

Havana, 14 ago (EFE).- O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, recebeu nesta sexta-feira vários dissidentes cubanos em cerimônia privada durante sua visita a Havana, e afirmou que não conseguirá a suspensão do embargo se o governo de Cuba não avançar em “temas de consciência”.

Kerry encerrou sua visita a Cuba, a primeira à ilha de um secretário de Estado americano em 70 anos, com um encontro com membros da sociedade civil cubana, mas alguns dos dissidentes convidados decidiram não comparecer à reunião.

Foi o caso de Berta Soler, líder das Damas de Branco, que não compareceu ao ato porque vê como negativo que o governo dos EUA convide os dissidentes para um evento que não seja a cerimônia oficial da abertura da embaixada e “ceda” às “exigências” do governo cubano.

O encontro também não contou com a presença de Antonio González-Rodiles, diretor do fórum crítico Estado de Sats, para quem “não é compreensível que a Administração do presidente americano, Barack Obama, também sofra a repressão do regime cubano”.

Entre os presentes estavam os ex-presos políticos Héctor Maseda, Marta Beatriz Roque, Óscar Elías Biscet e José Daniel Ferrer, além da blogueira Yoani Sánchez e seu marido, o jornalista independente Reinaldo Escobar.

Também compareceram Miriam Leiva, uma das fundadoras do movimento das Damas de Branco, Manuel Cuesta Morúa, do Arco Progressista; e o intelectual crítico Dagoberto Valdés.

Em geral, todos saíram satisfeitos do encontro com Kerry, no qual expuseram suas abordagens e preocupações sobre a situação dos direitos humanos e liberdades na ilha.

A reunião com opositores foi realizada na residência do encarregado de negócios americano em Havana, Jeffrey DeLaurentis, e incluiu uma breve cerimônia de hasteamento da bandeira dos EUA, horas depois de Kerry liderar outro ato oficial em frente à embaixada de seu país.

“Não há nenhuma maneira do Congresso (americano) suspender o embargo se (os cubanos) não se movimentarem em relação a temas de consciência”, disse Kerry, em uma referência às preocupações americanas sobre os direitos humanos na ilha.

Kerry ressaltou que os Estados Unidos seguem condenando as detenções temporárias de dissidentes e que “não há nenhuma desculpa” que possa justificá-las, mas opinou que essas “já não são as sentenças de 20 anos de prisão que havia antes”.

O representante da diplomacia americana considerou que o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodríguez, ficou “na defensiva” durante a entrevista coletiva que ambos concederam horas antes em Havana.

No ato, Rodríguez criticou a situação dos direitos humanos nos Estados Unidos ao ressaltar que em Cuba se respeita “o salário igual” para mulheres e homens e não há desigualdade racial ou “brutalidade policial” como no vizinho do norte.

Sobre isso, Kerry afirmou que há uma “enorme distinção” entre as formas como foram tratados “os direitos humanos do povo” cubano e “um policial que de forma independente, sem relação com a política do governo, comete erros gigantes”.

Após uma visita de pouco mais de dez horas a Havana, Kerry declarou gostaria voltar a Cuba, e que “provavelmente” fará uma visita “nos próximos meses, dependendo dos avanços” na relação.

“Na próxima vez, gostaria ficar por alguns dias”, afirmou.

Durante sua visita foi acordada a criação de uma comissão bilateral onde serão integrados todos os diálogos independentes sobre temas como direitos humanos e telecomunicações que ocorreram durante os últimos meses, e cuja primeira reunião acontecerá nos dias 10 e 11 de setembro em Havana, segundo anunciou.

Na entrevista coletiva com Rodríguez, Kerry disse que os dois governos focarão primeiro em “construir confiança e lidar com assuntos que são menos complicados, menos provocativos e mais factíveis”.

Durante seu encontro posterior com jornalistas, explicou que a comissão terá três áreas principais, algumas mais fáceis de se resolver e outras mais complicadas, que serão tratadas simultaneamente.

As mais fáceis são temas como “segurança marítima, mudança climática e cooperação ambiental”; enquanto em uma segunda fase de dificuldade estarão assuntos como “aviação civil e telecomunicações”.

A terceira escala, a mais complicada, inclui temas como “direitos humanos, segurança, fugitivos (procurados pela justiça americana) e as exigências” econômicas de ambas as partes. EFE

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