Kibutz “latino-americano” de Mefalsim registra mudanças 65 anos após fundação

  • Por Agencia EFE
  • 12/06/2014 10h11
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María Luisa González.

Sderot (Israel), 12 jun (EFE).- O kibutz de Mefalsim, nos arredores da Faixa de Gaza, foi o primeiro fundado por judeus procedentes da América Latina, principalmente da Argentina e Uruguai, e ainda conta com alguns descendentes entre os atuais 900 residentes desta fazenda coletiva ao sul de Israel.

Com um estábulo com capacidade para abrigar 300 vacas em sua entrada, o kibutz de Mefalsim é formado por um conjunto de casinhas brancas, entre as quais seus habitantes destacam com orgulho especial a creche e a escola, onde as crianças estudam até os seis anos e onde também cursam o ensino primário.

Moshé Reskin e Claudio Meitovich, ambos de origem argentina, explicaram que, devido à proximidade de Gaza e ao fato de estarem ao alcance dos foguetes lançados da faixa, reforçaram recentemente “todas as instalações destinadas à educação das crianças com tetos especiais de 40 centímetros de espessura”.

Segundo eles, todos os moradores do kibutz conhecem o sinal de alerta, geralmente ativado devido à proximidade de um foguete, que concede entre sete e 15 segundos aos mesmos para reagirem em busca de algum refúgio.

Dos 70 argentinos, uruguaios “e um ou outro brasileiro infiltrado” que fundaram essa fazenda coletiva em 1949, só restam cinco.

Daqueles pioneiros, “a maioria abandonou o local”. “Eram pessoas que vinham de Buenos Aires e de Montevidéu – a maioria de círculos burgueses -, cujos pais lamentaram muito o fato de terem vindo parar aqui”, conta Moshé a um grupo de jornalistas durante uma visita ao kibutz.

Segundo ele, a maioria dos que vieram para fundar essa fazenda coletiva, regida como todos os kibutz em sua origem por um sistema socialista – que obedecia à máxima “de cada um segundo suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades” – vieram “por ideologia, mas depois vieram as necessidades do dia a dia, quando é preciso se levantar às 4h da manhã para trabalhar a terra”.

Nos registros de Mefalsim podem ser vistas as imagens de seus fundadores, assim como casais de jovens argentinos e uruguaios, no meio de uma terra desértica, na qual dormiam em tendas de campanha e sem nada ao redor.

Com o passar do tempo, entre 1949 e 1950, os resistentes conseguiram fazer a primeira perfuração de água no deserto e, a partir dos anos 60, “finalizaram o grande duto de água desde o lago Tiberíades”, lembrou Moshé.

Na atualidade, este kibutz, que, como o resto das fazendas coletivas abandonou o socialismo inicial para entrar nas práticas do capitalismo e se adaptar aos avanços tecnológicos, consegue se manter e é rentável, segundo Moshé e Claudio.

Atualmente, a principal atividade de Mefalsim é uma fábrica metalúrgica na qual se fabricam peças a partir de pó de metal. Além disso, o kibutz produz cerca de mil toneladas de carne de frango por ano, assim como 3,5 milhões de litros de leite.

Alguns dos atuais habitantes de Mefalsim também trabalham fora do “kibutz” e fornecem seus salários à comunidade, que, por outro lado, lhes revertem a soma que consideram adequada.

Esse é o caso de Moshé, que, depois de trabalhar 15 anos na fazenda, decidiu estudar história. O kibutz financiou seus estudos e, por isso, ele é obrigado a oferecer aulas como professor em um colégio local e a depositar seu salario em uma conta comum.

O dinheiro recolhido entre os que trabalham fora é revertido – de acordo com o que for considerado apropriado – aos próprios trabalhadores, mas “levando em conta o número de filho que possui, a idade e suas necessidades”, explicou Moshé.

Para se ocupar e controlar estas tarefas, o kibutz de Mefalsim, assim como a maioria dos demais, conta com um gerente.

No final da área onde se encontram as casas, surge no horizonte a Faixa de Gaza – “os seus vizinhos”, segundo Moshé, que contou que, “até o começo da primeira Intifada (1987), muita gente de Gaza trabalhava aqui em nosso kibutz”.

“Mas, após a segunda Intifada (2000), como se diz na Argentina, tudo se arruinou”. Posteriormente, alguns laços foram mantidos, principalmente em relação às atividades escolares, mas isso chegou ao fim depois “que o Hamas tomou o controle da faixa”.

Com orgulho, Claudio mostra o “refúgio” construído como “centro de operações”. Na porta do local, um cartaz lembra que sua restauração foi feita com a ajuda da família de Arieh (Leão) Goldwasser, um dos cofundadores do kibutz.

Entre a segunda e terceira geração, “a maioria não deseja ficar”, mas, segundo Claudio, há uma espécie de “outra volta do ciclo, já que muitos dos que abandonam o local acabam voltando, mesmo depois de passar uma temporada no exército ou viver anos na cidade.

Eles dois, assim como outros poucos, ainda conservam intacta sua língua materna espanhola, mas as novas gerações são educadas em hebraico e, a partir dos seis anos, passam a estudar inglês. Aos 12, também passam a estudar árabe. EFE

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