Kobani, a cidade que quer renascer das cinzas

  • Por Agencia EFE
  • 05/02/2015 06h29
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Susana Samhan.

Beirute, 5 fev (EFE).- Com 80% de seu território devastado após mais de quatro meses de ofensiva jihadista, a cidade curdo-síria de Kobani tenta agora ressurgir das cinzas depois de expulsar os combatentes do grupo radical Estado Islâmico (EI).

Falta de tudo na cidade, que fica na fronteira com a Turquia e, junto com povoados vizinhos, estava cercada há mais de um ano pelos extremistas, que fizeram um grande ataque em meados de setembro do ano passado. A comida que se pode encontrar em Kobani é “o mínimo” para se viver, disse à Agência Efe pela internet o ativista Mustafa Ebdi, que permaneceu por lá mesmo durante o assédio do EI.

Alimentos enlatados, bulgur (trigo seco partido) e arroz são os poucos itens que podem ser encontrados, já que o comércio está com as portas arriadas há meses.

“Dependemos da comida que ficou nos estoques das lojas”, lamentou Ebdi.

As forças curdas expulsaram totalmente os jihadistas da cidade em 26 de janeiro, e anteontem os seguidores do EI recuaram de suas posições dos arredores devido ao progresso de seus adversários. Uma semana depois da retirada dos radicais de dentro da cidade, os moradores podem começar a respirar mais tranquilos, mas com grandes carências, já que serviços básicos como energia elétrica e água corrente também estão em falta.

Apesar de a tarefa de reconstrução ser longa, o presidente do governo autônomo curdo-sírio de Kobani, Anwar Muslim, não se abalou diante do trabalho que tem pela frente. A primeira providência foi criar um comitê para a reconstrução, integrado por engenheiros, advogados e especialistas em diferentes áreas de atuação para que Kobani volte à normalidade.

A prioridade é que os milhares de deslocados que fugiram, sobretudo para território turco, possam voltar para suas casas. Antes da ofensiva do EI, Kobani tinha uma população de 200 mil pessoas, e hoje conta apenas com 30 mil.

“Mas a cada dia estamos recebendo uma média de 100 pessoas voltando”, destacou o político, que defende que este fluxo crescerá à medida em que os soldados curdos comecem a garantir a segurança das estradas.

Por isso, Muslim considera que a necessidade mais urgente é estabelecer acampamentos para abrigar os que voltam e se deparam com suas casas destruídas, já que boa parte da cidade deixou de existir. Dos cinco hospitais que Kobani possuía, apenas um ficou de pé, mas sem condições de atender por conta dos danos sofridos, e agora os moradores estão empenhados em reerguê-lo o quanto antes.

Os feridos, tanto civis quanto milicianos curdos, são atendidos em um hospital de campanha improvisado montado em uma escola, onde os remédios e médicos estão cada vez mais em falta. Esse cenário de degradação leva os casos mais graves a serem transferidos a unidades médicas da Turquia, o país vizinho mais estável.

As baixas temperaturas do inverno também não favoreceram a situação humanitária, já que falta combustível para alimentar as estufas que protegem do frio. Mesmo assim, o governo interino curdo-sírio de Kobani se comprometeu a distribuir 25 litros de gasolina por semana para cada família.

“Precisamos com urgência de ajuda humanitária da comunidade internacional. Há uma semana os jihadistas foram embora, e ninguém chegou aqui”, queixou-se o presidente, ressaltando que apenas algumas ONGs apareceram para repartir comida.

O mais difícil já foi alcançado. Agora, Kobani dá início a um novo capítulo não menos difícil para os governantes e os residentes dessa pequena cidade no norte da Síria. EFE

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