Laicos se impõem a islamitas do Al-Nahda nas eleições da Tunísia

  • Por Agencia EFE
  • 27/10/2014 17h38

Túnis, 27 out (EFE). – O partido laico Nida Tunis ganhou o pleito legislativo tunisiano, conforme concordaram nesta segunda-feira todos os partidos e observadores, embora a Instância Superior Independente para as Eleições (Isie) tenha atrasado e só vá divulgar na noite de hoje os primeiros dados oficiais.

De fato, o partido islamita Al-Nahda reconheceu sua derrota nas urnas através de seu porta-voz, Zied Laadhari, que parabenizou o Partido Conservador e laico Nida Tunis por sua “vitória” nas eleições.

“Al-Nahda não dará rasteiras nem perturbará o trabalho do próximo governo”, disse Zied Laadhari a uma emissora de rádio, afirmando ainda a vontade de seu partido de “colaborar” com o seu principal rival na corrida eleitoral.

Faltando dados oficiais e apesar da advertência do órgão regulador das eleições no país do perigo de cometer erros antecipando resultados, durante todo o dia todo foram publicadas mais pesquisas e estimativas sobre as porcentagens obtidas pelos principais partidos ontem.

Assim, a associação Al Murakibun, uma das mais organizadas para o controle da jornada eleitoral, deu como ganhador do pleito o Nida Tunísia, com 37,1% dos votos. Conforme os seus cálculos, o Al-Nahda ficaria em segundo lugar com um 27,9% dos votos, seguido de União Patriótica Livre (UPL), presidida pelo populista empresário Slim Riahi, com 4,4% e da coalizão de partidos de esquerda e associações da Frente Popular liderada pelo histórico Hamma Hammami, com 3,7%.

Os dois partidos que formaram a aliança que governou junto ao Al-Nahda (Congresso Pela República e os socialistas do Ettakatol) não ultrapassam 2% dos votos, de acordo com esta pesquisa.

O Isie convocou uma entrevista coletiva para esta noite para fornecer os primeiros resultados oficiais, já que os definitivos serão conhecidos apenas amanhã.

Ao longo do dia vários países parabenizaram a Tunísia pelo bom desenvolvimento do pleito, entre eles o presidente americano, Barack Obama.

O governo espanhol também felicitou “o povo e às autoridades tunisianas pelo desenvolvimento em paz e tranquilidade” das eleições “nas quais ficou visível seu apego pela democracia”, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

O titular de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que seu país “se alegra” do bom desenvolvimento das eleições à Assembleia dos Representantes do Povo.

A única nota contrária hoje foi do líder do partido Wafa, satélite de Al-Nahda no parlamento nacional, Abderraouf Ayadi, que declarou a uma rede de televisão local que “foi a comunidade internacional que recolou no poder o antigo regime”.

Ayadi fazia referência às várias personalidades do regime do ditador Zine el Abidine Ben Ali que se “reciclaram” como militantes do partido vencedor das eleições, aliando-se sem aparente problema aos esquerdistas que antes eram reprimidos.

O Al-Nahda, pelo contrário, parece ter aceitado o veredicto das urnas, muito mais duro do que o que previam as pesquisas. Até ontem, quando se estendia o rumor da vitória do Nida, o dirigente islamita Sahbi Attig o rejeitava plenamente.

“Somos a primeira força política do país, a mais popular, a mais organizada, a mais apegada à lei e a mais próxima às preocupações do povo; toda extrapolação será contra a realidade”, disse então Attig.

No entanto, o povo tunisiano parece não ver os acontecimentos do mesmo modo e preferiu, simplesmente, dar a alternativa democrática a seus adversários. EFE

ma-fjo/cdr

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.