Líbano forma governo de unidade após dez meses de bloqueio

  • Por Agencia EFE
  • 15/02/2014 18h03

Beirute, 15 fev (EFE).- Depois de mais de dez meses de esforços infrutíferos, o primeiro-ministro libanês, Tamam Salam, conseguiu neste sábado formar um governo de união nacional para tentar tirar o país da atual crise de segurança e polarização social, agravada pela guerra na vizinha Síria.

Salam, que foi designado por consenso em abril, mas que devido às divergências entre as forças políticas não tinha conseguido constituir até agora o gabinete, destacou que o objetivo é retomar o diálogo nacional.

Em um breve discurso, este político moderado afirmou que o executivo se afasta do “sectarismo religioso”, algo fundamental em um momento de frequentes confrontos entre sunitas e xiitas e de atentados terroristas.

O novo executivo, integrado por 24 ministros, engloba em quantidades iguais representantes das duas coalizões políticas rivais: as Forças do 8 de Março, lideradas pelo grupo xiita Hezbollah, e as Forças do 14 de Março, lideradas pelo ex-primeiro-ministro Saad Hariri.

Cada uma destas alianças ficou com oito pastas, e as outras oito foram para o centristas ou neutros, partidários do presidente Michel Suleiman, de Salam e do chefe druso Walid Jumblatt.

Só ficou de fora o partido Forças Libanesas de Samir Geagea, que se recusou a entrar em um gabinete com membros do Hezbollah enquanto o grupo xiita mantiver combatentes na Síria, onde lutam junto às tropas do regime de Damasco.

A formação do governo exigiu árduas negociações, pois a princípio as Forças do 14 de Março se negavam a formar governo com o Hezbollah se não se retirasse da Síria, e as do 8 de Março exigiam ter direito a veto e serem majoritários no novo gabinete.

De fato, Salam assinalou que o executivo nasceu graças a “as concessões das forças políticas”, que tiveram que diminuir suas reivindicações.

Na divisão, o Ministério da Defesa ficou nas mãos de um assistente do presidente, Samir Muqdel, engenheiro civil que ocupou a pasta do Meio Ambiente entre 1992 e 1995 e foi nomeado em junho de 2011 vice-primeiro-ministro do governo de Najib Mikati.

A única mulher que integra o gabinete, a juíza Alice Chabtini, faz parte também dos ministros designados pelo presidente Suleiman.

Nove dos ministros ocupam pela primeira vez uma pasta, entre eles o ministro do Interior, Nuhad Mashnuq, jornalista de 59 anos e deputado de Beirute pela Corrente do Futuro – de Hariri – desde 2009.

À coalizão de 14 de Março pertencem outros ministros: o de Informação, Ramzi Joreij; o de Economia, Alain Hakim, e o de Justiça, Ashraf Rifi, que era chefe da polícia e cuja candidatura a Interior foi vetada pelo Hezbollah.

Por outro lado, Hezbollah está representado, entre outros, no Ministério de Indústria com Hussein Hajj Hassan, que ocupava a Agricultura no governo anterior de Mikati.

O outro partido xiita, Amal, presidido pelo chefe do Parlamento Nabih Berri e dentro das Forças do 8 de Março, assumiu as Finanças, cargo para o qual designou Ali Hassan Khalil.

Também a esta coalizão, do grupo Corrente Patriótica Livre, pertence o ministro das Relações Exteriores, Yebran Basil, de 44 anos e engenheiro civil, para o qual seu sogro – o ex-chefe de governo Michel Aoun – exigia uma pasta antes de dar sua aprovação ao gabinete.

O atraso de dez meses na constituição do executivo, que bateu inclusive uma marca em um país habituado às demoras neste tipo de negociação, fomentou a instabilidade que atravessa o país desde o início da crise síria em 2011.

Entre os desafios de Salam, considerado um homem de consenso e independente, está que a atual brecha entre os partidários do regime sírio – Hezbollah – e seus críticos – as Forças de 14 de Março – não derive em um conflito interno. EFE

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