Libéria terá soro experimental para combater vírus do ebola

  • Por Agencia EFE
  • 12/08/2014 11h42

Elise Zoker.

Monróvia, 12 ago (EFE).- O ministro da Saúde da Libéria, Walter Gwenigale, informou nesta terça-feira que o país irá dispor de doses do soro experimental fabricado nos Estados Unidos para tratar infectados pelo vírus do ebola, que já matou mais de mil de pessoas em vários países de África Ocidental.

Em entrevista à rádio estatal “LBS” ele disse que o fármaco chegará amanhã ao país depois que a presidente, Ellen Jonhson Sirleaf, fez o pedido às autoridades americanas no último dia 8. Segundo ele, será preciso enfrentar “desafios” logísticos para combater a doença, apesar de a Libéria ter construído um centro que “abrigaria até 100 pacientes com o vírus do ebola”.

Há alguns dias, os Estados Unidos decidiram aplicar o soro a dois cidadãos americanos contagiados na Libéria, o médico Kent Brantly e a missionária Nancy Writebol, apesar de ainda não ter sido testado em humanos. Eles permanecem internados em Atlanta e o estado de saúde evolui favoravelmente, após a administração de ZMapp, o soro experimental produzido a base de anticorpos criados no sangue de ratos que aderem às células infectadas com ebola para evitar seu avanço.

No entanto, Miguel Pajares, o padre espanhol repatriado após ser infectado pelo vírus na Libéria, morreu hoje apenas três dias após começar a receber o mesmo soro experimental.

A Libéria utilizará o remédio para tratar profissionais de saúde contagiados pelo vírus do ebola, que já matou a 323 pessoas no país. Segundo informou o jornal local “Daily Observer”, o soro será fornecido aos médicos Abraham Borbor e Zukunis Ireland, que foram infectados enquanto trabalhavam no JFK Hospital da Monróvia, um dos maiores centros de tratamento e isolamento para doentes de ebola no país.

A epidemia sem precedentes por seu grande virulência provocou a morte de muitos médicos especialistas no tratamento dessa doença, o que representa uma grande perda para a luta contra o vírus. Nos últimos meses, Libéria perdeu dezenas de médicos por conta do vírus, incluindo um de seus profissionais mais conhecidos, Samuel Brisbane, que também trabalhava no JFK.

Apesar de o governo liberiano ter afirmado ontem que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tinha aprovado o envio adicional de dose do soro, a instituição desmentiu.

“A OMS não tem qualquer responsabilidade no envio de tratamento algum aos países (afetados) porque não temos qualquer tratamento em reserva”, declarou hoje a porta-voz da OMS, Fadela Chaib.

Por outro lado, na Nigéria, onde foram registradas duas mortes, os especialistas acompanham a situação muito de perto a fim de detectar o mais rápido possível novos casos e evitar, portanto, que o vírus se espalhe no país mais povoado da África. Recentemente, o governo nigeriano também solicitou ajuda aos Estados Unidos para adquirir este remédio experimental, embora, por enquanto, ainda não tenha recebido resposta.

Apesar dos países afetados pelo ebola mostraram interesse pelo soro, a utilização para tentar curar vítimas do atual surto de ebola gerou polêmica entre a comunidade científica, já que, até agora, o fármaco não tinha sido testado em humanos, mas apenas em animais em experimentos pré-clínicos.

O Comitê de Ética da OMS aprovou hoje o uso de tratamentos experimentais nas vítimas do atual surto, embora sua eficácia ainda não seja comprovada. Desde o início da epidemia, em março em Guiné e que se estendeu à Libéria, Serra Leoa e Nigéria, 1.013 pessoas morreram, conforme a último levantamento divulgado hoje pela OMS.

Apesar de os governos africanos mobilizaram todos os recursos possíveis para tentar conter a doença, o número de vítimas aumenta na África Ocidental, especialmente na Libéria, onde de 7 a 9 de agosto 29 pessoas morreram.

O ebola – transmitido por contato direto com o sangue ou fluidos corporais de pessoas ou animais infectados – causa hemorragias graves e pode ter uma taxa de letalidade de 90%. Esta é a primeira vez em que é identificada e confirmada uma epidemia de ebola na África Ocidental. Até agora, a doença sempre ocorria na África Central. EFE

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