Líder ruandês acusado de genocídio obtém liberdade condicional em Londres
Guillermo Ximenis.
Londres, 25 jun (EFE).- Um juiz britânico concedeu nesta quinta-feira liberdade condicional mediante pagamento de uma fiança de 1 milhão de libras (1,4 milhão de euros) ao chefe dos serviços de inteligência de Ruanda, Karenzi Karake, cuja extradição é pedida pela Espanha por terrorismo e crimes contra a humanidade.
O general ruandês é acusado do assassinato de nove espanhóis – seis religiosos e três voluntários – entre 1994 e 2000 e de participar do genocídio de mais de quatro milhões de pessoas durante a guerra entre hutus e tutsis.
O juiz Quentin Purdy, da Corte de Magistrados de Westminster, considerou que a intenção explícita do governo de Ruanda de cooperar para que Karake permaneça em Londres até que seja realizado o julgamento de extradição, em 29 e 30 de outubro, é um argumento de peso para que o militar deixe a prisão de alta segurança de Belmarsh (sudeste de Londres), onde estava desde o último sábado, quando foi detido no aeroporto de Heathrow.
O juiz retirou o passaporte diplomático do militar, que está proibido de deixar Londres até o momento do julgamento e deverá se apresentar todos os dias em uma delegacia da capital britânica.
Karake, da etnia tutsi, residirá nos próximos meses em uma casa em Londres facilitada pelo governo de seu país cujo endereço não será revelado por motivos de segurança.
O general, detido em virtude de uma ordem europeia de detenção emitida pela Espanha em 2008, compareceu perante o juiz vestido com um traje amarelo e verde de presidiário.
Durante a audiência, Karake só falou para confirmar seu nome e sua data de nascimento e para negar seu consentimento a ser extraditado à Espanha e assegurar que cumprirá as condições de sua liberdade condicional.
Em representação do detido, o advogado Mark Summers, acompanhado da também advogada Cherie Blair, esposa do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, argumentou que o governo ruandês afirmou por escrito que cooperará para que Karake permaneça em Londres até o julgamento, o que o magistrado considerou um argumento de peso para aceitar sua liberdade condicional.
Karake “é um funcionário de alto gabarito de um governo democrático respeitado pela comunidade internacional”, declarou Summers, cuja oferta inicial de pagar 200 mil libras (280 mil euros) como fiança foi rejeitada pelo juiz, que elevou essa quantia a 1 milhão de libras devido à “especial gravidade” dos crimes pelos quais o militar ruandês é acusado.
Em representação da justiça espanhola, o promotor Aaron Watkins disse que existe o risco de Karake, diretor-geral do serviço nacional de Inteligência e Segurança de Ruanda, deixe o Reino Unido antes que o juiz decida sobre sua extradição à Espanha, onde cumpriria uma pena máxima de 30 anos.
Para a acusação, o principal responsável dos serviços secretos de Ruanda “tem meios para organizar a viagem se assim desejar”.
“Este é um acusado sem vínculos no Reino Unido. É um cidadão ruandês que pensava passar um curto período de tempo no país”, ressaltou Watkins ao pedir que fosse mantido em prisão preventiva.
O promotor argumentou, além disso, que o governo de Ruanda não aceitou a legitimidade do processo que segue no Reino Unido, o que poderia aumentar o perigo do general receber apoio para retornar a seu país.
O ministro da Justiça ruandês, Busingye Johnston, presente hoje no tribunal, afirmou nesta semana que a ordem de detenção emitida pela Justiça espanhola em 2008 não cumpre com os requisitos da Interpol, enquanto a ministra de Relações Exteriores, Louse Mushikiwabo, disse que a detenção mostra a vontade dos países ocidentais de “degradar os africanos”.
Após a audiência, Johnston alegou que seu governo não esperava que o Reino Unido detivesse Karake, que visitou o país em diversas ocasiões nos últimos anos, e disse que confia que o juiz lhe dará razão. EFE
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