“Longa marcha” de camponeses pede em Assunção a renúncia de Horacio Cartes

  • Por Agencia EFE
  • 10/02/2015 16h30

María Sanz.

Assunção, 10 fev (EFE).- A “longa marcha” de camponeses que percorre o Paraguai desde sexta-feira passada chegou nesta terça-feira ao Congresso do país para pedir a renúncia do governo de Horacio Cartes e a transformação radical do modelo político e econômico do país.

Ao grito de “Horacio, Horacio, fora do Palácio”, milhares de pessoas se concentraram em frente à sede do parlamento, em pleno centro de Assunção, para mostrar sua rejeição ao governo.

Os manifestantes chegaram a pé formando duas colunas que partiram na sexta-feira passada de diferentes departamentos do interior como Concepción, San Pedro e Canindeyú, no norte, e Caaguazú, Guairá e Caazapá, no leste.

A economia do Paraguai, que é uma das que mais cresceu em 2014 na América Latina (4%, segundo a Cepal), tem como pilares a produção de soja, da qual o país é o quarto maior exportador do mundo, e de carne bovina, da qual é o sexto exportador.

É necessária “uma reforma agrária” que “transforme a posse da terra, elimine o latifúndio e desenvolva a produção agrícola para satisfazer as necessidades internas”, assim como a “produção industrial ligada à matéria-prima nacional”, declarou à Agência Efe o secretário adjunto da Federação Nacional Camponesa (FNC), Marcial Gómez.

O dirigente da FNC, uma das organizações que respaldam o protesto, ressaltou que o atual sistema econômico “aprofunda a dependência internacional, a entrega e o saque dos recursos naturais”.

Gómez criticou o modelo de produção agrícola atual, baseado nas grandes extensões de terreno destinadas à monocultura de produtos como a soja, que ocupam três milhões de hectares da superfície total do país.

O dirigente destacou, além disso, que o Paraguai é um dos países com maior concentração de terras do mundo, a maior parte delas em mãos de empresários dedicados à exportação agrícola e criadora de gado.

Por sua parte, Eladio Flecha, secretário-geral do Partido Paraguai Pyahurá (“Paraguai novo”, em língua guarani), organizador da mobilização, disse à Efe que Cartes “só serve aos interesses de uma pequena minoria de privilegiados”, que são “os latifundiários, criadores de gado, agroexportadores e narcotraficantes”.

A coordenadora da coluna que partiu do leste do país até a capital, Augusta Caballero, ressaltou que “o povo está inquieto e descontente”, motivo pelo qual a marcha recebeu “o apoio e solidariedade dos cidadãos” em todo o percurso.

“O paraguaio pobre não tem futuro, está angustiado e desesperado, e nos fez chegar essa inquietação”, acrescentou.

Caballero afirmou que a solução aos problemas dos paraguaios passa pela “renúncia de Cartes” e a constituição de um “governo patriótico” formado por um conjunto de personalidades “honestas e democráticas” que “orientem o povo organizado a um programa de desenvolvimento e de soberania nacional”.

Por sua vez, o secretário adjunto da FNC assinalou que no Paraguai “os narcotraficantes financiam as campanhas eleitorais e inclusive lideram as listas dos partidos”.

Gómez considerou necessário “realizar debates e assembleias cidade por cidade”, para que “o povo participe permanentemente em sua própria organização e apresente suas propostas”.

Os participantes da “longa marcha”, como foi denominada, permanecem concentrados na praça junto ao Congresso paraguaio, onde devem pernoitar antes de partir nesta quarta-feira de volta a seus lugares de origem.

Sua próxima convocação será no próximo dia 1º de março, coincidindo com o feriado nacional do Dia dos Heróis, quando proporão a formação de um Congresso Democrático e Popular que seja o veículo de seu descontentamento. EFE

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