Luta contra obesidade e desnutrição: um desafio pendente no Oriente Médio

  • Por Agencia EFE
  • 22/11/2014 10h29

Imane Rachidi.

Cairo, 22 nov (EFE). – Dois problemas de saúde aparentemente opostos afetam cada vez mais à população dos países árabes: a desnutrição e a obesidade, duas questões vinculadas tanto a elementos econômicos quanto a socioculturais.

Para a representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Fatima Hashim, a pobreza é um fator importante no caso da nutrição, tanto que provoca obesidade e desnutrição, “mas não é a única causa”.

Em entrevista à Agência Efe, a especialista em alimentação e nutrição explica que no transtorno de obesidade há muitos fatores em jogo, especialmente culturais.

“A causa está nos maus hábitos de vida e na falta de atividade física, seja por ausência de trabalho ou de exercícios”, opinou.

Segundo a representante, a obesidade aparece muito mais nas regiões ricas, como as nações do Golfo Pérsico, que lideram as estatísticas mundiais neste campo.

Esta problemática afeta, principalmente, o sexo feminino, como destaca Fatima, que acrescentou: “Pelo menos 40% das mulheres dessa região ultrapassam o peso adequado para sua idade e altura”.

Nestes países, caracterizados pelo conservadorismo, não há incentivo para as mulheres saírem às ruas nem para as famílias andarem a pé.

Os costumes são responsáveis por muitos dos hábitos. Em grande parte do mundo árabe o ideal de mulher é de corpo com formas mais arredondadas, diferentemente do Ocidente.

Em certas sociedades existe, inclusive, a prática de alimentar às jovens para aumentar as possibilidades de casar. No outro extremo, 45% das mulheres dos países árabes sofrem anemia, apontou a especialista.

Fatima explicou que as principais causas de morte nas pessoas de ambos os sexos na região são transtornos relacionados aos maus hábitos alimentares, como diabetes, tensão, câncer ou doenças cardíacas.

Muitas crianças também não alcançam a altura correspondente a sua idade, principalmente no Sudão, Iêmen e Mauritânia. Nesses países, mais de 50% dos menores de cinco anos sofrem problemas de crescimento.

“Não é um problema necessariamente relacionado com a renda de um país”, advertiu a especialista, antes de explicar que países de renda média, como Egito, Marrocos e Argélia, também sofrem com essa questão.

Fatima destacou que ambos os problemas se agravaram nas últimas décadas. Ela ressaltou que a desnutrição, que atingia 20% da população árabe nos anos 90, passou a afetar mais de 30% na atualidade, “especialmente nos países pobres”.

Em uma reunião regional sobre a situação da nutrição no Oriente Médio e o Norte da África realizada recentemente no Cairo, a FAO recomendou o estabelecimento de projetos estatais para pôr fim aos problemas e mudar os hábitos alimentares que colocam a sociedade em risco.

No fórum, o diretor regional da organização, Abdessalam Ould Ahmed, advertiu que se trata de “uma realidade e um desafio” e que precisam ser enfrentados, porque tanto a ausência de alimentos quanto a desnutrição são uma barreira ao desenvolvimento.

“Alguns não podem comprar o que necessitam, enquanto outros adquirem mais do que precisam”, relatou Ahmed na ocasião.

Ahmed lembrou que avançar na luta contra a desnutrição ajuda a reduzir a despesa médica e o número de doentes em um país.

“O problema principal não é a falta de recursos, há muita produção e isso aumenta anualmente, mas é uma questão de má divisão”, assegurou, por sua vez, a vice-diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), Haifa Madi.

A solução para estes problemas passa por aumentar os orçamentos, a educação, as políticas e o esforço das autoridades, afirmou Fatima Hashim, que destaca a necessidade de uma maior coordenação entre os ministérios de Agricultura, Saúde, Educação e Comércio dos países afetados para trabalharem por “uma única solução”.

Especialistas destacam que na atualidade, os países que mais preocupam as organizações internacionais são a Síria e o Iêmen.

O papel da FAO no conflito sírio se concentra em ajuda direta e rápida aos agricultores e criadores de gado para que possam auxiliar na situação, embora também apoie às sociedades que recebem refugiados do Líbano e da Jordânia, por exemplo.

No Iêmen, o déficit de crescimento em crianças alcança 57%, ou seja, “a cada duas crianças com menos de cinco anos, uma não tem a estatura que corresponde a sua idade”.

“É um problema histórico que o Iêmen arrasta há muitos anos e é provocado pela pobreza e a incapacidade de conseguir os alimentos suficientes e necessários”, sentenciou Fatima. EFE

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