Luta contra terrorismo divide sociedade civil egípcia

  • Por Agencia EFE
  • 29/10/2014 18h38

Jorge Fuentelsaz.

Cairo, 29 out (EFE). – A nova campanha de segurança lançada pelo presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, para combater o terrorismo dividiu à sociedade civil do país entre os que mostraram total apoio e os que a consideram uma verdadeira repressão que menospreza ainda mais as liberdades democráticas.

O brutal ataque terrorista lançado na sexta-feira passada na Península do Sinai e que causou a morte de 31 pessoas do exército foi seguido, imediatamente, por uma série de medidas que favorecem a presença e a ação militar em todo o país. Na última segunda-feira, três dias após o luto oficial decretado por conta do atentado, Al-Sisi ordenou às Forças Armadas que ajudassem à polícia na proteção das “instalações públicas e vitais” do país durante os próximos dois anos.

No mesmo decreto emitido pelo presidente, que exerce um poder absoluto à revelia de parlamento, se estipula que os delitos cometidos contra estas instalações civis serão remetidos à Justiça Militar.

Na prática, estas novas prerrogativas se traduziram na continuidade da repressão ao movimento de protesto contra Al-Sisi surgido nas universidades coincidindo com o início do ano letivo, assim como no despejo imediato de vários civis na população de Rafah, fronteira com a Faixa de Gaza. Segundo distintas fontes, quase mil famílias poderiam ser afetadas por esta decisão, que as autoridades justificam com o argumento de que servirá para conter a entrada de extremistas vindos de Gaza através dos túneis subterrâneos que comunicam ambos os lados da fronteira.

Estes supostos radicais alimentariam, segundo o relato oficial, as fileiras de grupos jihadistas, como Ansar Bait al-Maqdis, que operam no Sinai.

Estas novas concessões às Forças Armadas dadas por Al-Sisi, que liderou a derrocada militar do então presidente, o islamita Mohammed Mursi em 3 de julho de 2013, contaram com o apoio imediato de 13 partidos políticos, assim como com o dos principais jornais do país.

Conforme disse à Agência Efe o presidente do Partido Reforma e Desenvolvimento (PRD), Mohammed Anwar al Sadat (sobrinho do presidente de mesmo nome, assassinado em 1981), se trata de uma aliança dirigida com a colaborar na preservação do Estado e apoiar os esforços do exército e da polícia em sua luta contra o terrorismo. De acordo com o político, esta aliança pretende “abrir o diálogo com os habitantes da Península do Sinai e com os estudantes das universidades e seus professores para cessar a violência e a sabotagem”.

Por sua vez, o sindicato da imprensa egípcia e responsáveis dos maiores jornais do país, como “Al-Ahram”, “Akhbar el-Youm”, “Al Dustur” e “Al-Masry al Youm”, decidiram de maneira conjunta “suspender a emissão de comunicados que apoiem o terrorismo ou prejudiquem às instituições do Estado”. No entanto, por trás desta declaração de intenções se sobrepõem posturas muito díspares.

Desde o apoio incondicional mostrado pelo chefe de redação do jornal “Al-Ahram”, Mohammed Abdul Hadi Allam, para quem “Se nossa sociedade perde o direito à vida, como podemos pedir ao Estado que proteja as liberdades gerais ou a liberdade de expressão?”; até as reservas expressadas nas colunas do jornal “Al Shuruq” pelo jornalista Mohammed Esamet, que considera que Al-Sisi e seu governo “podem cometer um erro catastrófico se aumentam as medidas excepcionais em detrimento das liberdades”.

Nesta mesma linha se pronunciaram hoje 19 ONGs, para as quais desde 2010 o país foi testemunha de uma “deterioração dramática” dos direitos humanos.

Para o analista Mohamed Elmenshawy, do Middle East Institute, “a sociedade civil egípcia está encurralada pelas políticas draconianas contra as liberdades”, como a lei contra as manifestações. Ele considera que Al-Sisi está aplicando as mesmas estratégias que o deposto ditador Hosni Mubarak, adotando “soluções de segurança” que o analista considera como “errôneas”.

Conforme declarou à Agência Efe este especialista, as medidas repressivas adotadas no Sinai por Mubarak após os atentados de 2004 e 2006 em Taba e Sharm el-Sheikh só conseguiram colocar à população civil contra o regime.

“Nos dirigimos rumo a um Mubarak 2.0”, ressalta Elmeshawy antes de afirmar que esta situação só conduzirá à piora da situação da sociedade civil, do jornalismo e das minorias perante a passividade dos Estados Unidos e a União Europeia que, segundo ele, renunciaram a pressionar o regime. EFE

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