Maduro baixa o tom contra setor privado

  • Por Agencia EFE
  • 27/04/2014 18h19

José Luis Paniagua.

Caracas, 27 abr (EFE).- O tradicional enfrentamento entre o governo venezuelano e o setor privado parece haver chegado a uma trégua com a chamada do presidente, Nicolás Maduro, aos empresários para trabalharem com o governo em um incomum tom conciliador em meioa más notícias para a economia da Venezuela

Nos dias seguintes ao início dos protestos contra o governo de Maduro, que começaram em 12 de fevereiro, o presidente lançou uma Conferência de Paz chamando todos os setores a buscar soluções para o descontentamento mostrado nas ruas com os problemas do país.

Com uma oposição hesitante entre participar ou se manter afastada do diálogo, o empresariado privado da Venezuela assumiu a convocação e se incorporou à reunião com alguns de seus representantes mais destacados, como o presidente de Fedecámaras, Jorge Roig, e o dono do conglomerado Polar, Lorenzo Mendoza, na liderança.

A avalização do empresariado do diálogo proposto por Maduro abriu uma série de reuniões da Conferência Econômica de Paz, que esta semana reuniu 700 empresários e o gabinete econômico do governo, entre anúncios de medidas e até o reconhecimento por parte de Maduro de erros do Executivo.

“Há uma mudança de atitude em relação ao setor privado e certo reconhecimento das gravíssimas dificuldades econômicas que experimentamos na Venezuela”, disse à Agência Efe o economista Richard Obuchi, professor do Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA).

Maduro anunciou na quinta-feira o pagamento parcial das divisas endividadas ao setor privado em um país com um sistema de controle de câmbio que deixa nas mãos do Estado o monopólio da moeda estrangeira.

Também coloca à disposição do setor privado grandes fundos do Estado para projetos e vários acordos por setores sobre preços de venda ao público.

Para Obuchi, apesar das medidas serem um primeiro passo, são um “passo precário para que isto constitua um plano de solução dos problemas”.

“Se anunciou pouco e se omitiram muitos temas”, acrescentou o economista ao mencionar a situação do déficit fiscal, a necessidade de medidas para combater a inflação e a importância de anúncios para promover o crescimento ou pelo menos evitar uma recessão.

Esta semana foi divulgado que a inflação ficou em 4,1% em março, número que ultrapassa as metas trimestrais já tradicionalmente alta da Venezuela, de 10,1% este ano contra 7,9% do primeiro trimestre de 2013, ano em que este indicador econômico acabou em 56,2%.

“O governo está tomando algumas ações, mas a incerteza continua porque apesar de haver um sinal de movimento em uma direção que parece mais acertada, ao finalmente se reconhecer a importância da iniciativa privada, as medidas adotadas estão mito longe de serem ousadas”, explicou Obuchi.

No repasse que Maduro fez com os empresários houve um reconhecimento dos problemas do governo para executar as políticas e medidas adotadas, com a admissão de que o sistema burocrático causa problemas que afogam a atividade empresarial.

“Às vezes eu vejo o mapa de temas que vocês propõem e na maioria deles, 95%, não há justificativa para problemas que se acumulam, e temos que assumir essa autocrítica para o país”, disse o presidente.

Para o economista Víctor Álvarez, ex-ministro de Indústrias de Hugo Chávez e pesquisador do Centro Internacional Miranda (CIM), “esse é o desafio: que essa vontade política manifestada pelo governo de Maduro seja expressada legalmente agora, ele têm pela frente o desafio de operacionalizá-la e concretizá-la no menor tempo possível”.

Os economistas concordam que Venezuela entrou em uma nova etapa de diálogo econômico em todos os fatores.

“Finalmente superamos essa etapa de diálogo de surdos, em que governo e oposição se falavam pela imprensa, se acusavam mutuamente pelos problemas do país e não era possível avançar porque não se completavam os esforços e os recursos de setor publico e setor privado”, indicou Álvarez.

O fato de esse diálogo ter nascido como uma necessidade pontual por causa da situação econômica ou ser algo mais estrutural não é relevante para Álvarez, que considera que agora “o que há é olhar para frente, ver o que está colocado e valorizar isso”.EFE

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