Maior exumação da história da Colômbia leva esperança para famílias

  • Por Agencia EFE
  • 27/07/2015 20h00

Jeimmy P. Sierra.

Medellín (Colômbia), 27 jul (EFE).- Um grupo de 100 pessoas começou nesta segunda-feira na cidade colombiana de Medellín a maior exumação da história do país para encontrar centenas de vítimas da violência sepultadas sob montanhas de escombros, o que representa uma “gota de esperança” para as famílias.

No setor chamado La Arenera, um dos lixões de escombros do bairro Comuna 13, se encontraram autoridades locais e nacionais, coletivos de vítimas e parentes de desaparecidos para inaugurar o projeto La Escombrera, que reunirá analistas por cinco meses em busca de centenas de corpos.

“A cerimônia de hoje foi comovente e um compromisso com a paz e a reconciliação”, declarou o ministro do Interior da Colômbia, Juan Fernando Cristo, durante o ato que incluiu uma cerimônia religiosa, uma curta passeata e a colocação de flores e velas sobre imagens das vítimas que permanecem sob os escombros, em alguns casos há 13 anos.

O início destas escavações que, segundo Cristo, “indicam que devemos paralisar esta fábrica de vítimas na qual se transformou a Colômbia e chegar a um fim do conflito”, também se transformou em um espaço no qual os familiares dos desaparecidos exorcizaram a dor que suportaram por mais de uma década.

“Estamos há 13 anos lutando para chegar ao processo que hoje se inicia. Esta é uma gota de esperança”, disse Luz Elena Galeano, líder da organização Mulheres Caminhando pela Verdade, que agrupa 130 vítimas da violência na Comuna 13.

Nesta área, cenário frequente do conflito armado que castiga Colômbia há mais de meio século, tiveram forte presença o Movimento 19 de Abril (M-19), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Posteriormente tomaram controle do bairro diferentes unidades paramilitares, além de grupos criminosos.

Para Galeano, este primeiro passo permitirá que o mundo “se sensibilize” e “se solidarize” com este capítulo doloroso da história da Colômbia e com o qual se evidencia que “a Comuna 13 é uma vala comum”.

Com sentimentos “confusos”, a presidente da associação Caminhos de Esperanã Mães da Candelaria, Teresita Gaviria, assinalou que o começo das escavações é talvez “o processo mais importante que vivemos na história colombiana”.

Gaviria considera que a iniciativa permitirá terminar com a “incerteza” de muitas pessoas que acham que seus parentes estão sepultados sob estes escombros.

“Se essas montanhas onde estão os escombros falassem, nos diriam quantos mortos estão ali. Ali está enterrada a dor”, disse Gaviria.

Uma vez finalizado o evento simbólico, o responsável por exumações da Direção Nacional de Justiça Transicional do Ministério Público, Gustavo Andrés Duque Serna, deu detalhes da primeira fase da maior exumação da história do país.

Segundo explicou Serna, a partir de hoje entrarão na área com maquinaria pesada para começar a remover 20 mil metros cúbicos de terra.

Posteriormente, um grupo de criminalística começará uma “remoção mais cuidadosa”, quando estiverem mais perto do setor no qual, de acordo com as investigações preliminares, poderiam encontrar alguns corpos.

“Faremos até o impossível para recuperar nossos mortos”, declarou Serna sobre as escavações.

Embora não possa falar com certeza do tempo que demorarão em conseguir o primeiro achado porque estão sujeitos ao clima e à estabilidade do terreno, Serna garantiu que há um compromisso da equipe que participará de “encontrar em um curto tempo os primeiros indícios”.

No meio da satisfação gerada pelo início da exumação, os coletivos de vítimas solicitaram às autoridades que se concentrem também em realizar escavações no setor Terrígenos, outra área na Comuna 13 na qual “há outras valas comuns” e que ainda não foi fechada para iniciar as investigações. EFE

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