Maior prisão da ditadura argentina completa 10 anos dedicada à memória
Buenos Aires, 24 mar (EFE).- O principal centro de detenção clandestino da última ditadura argentina (1976-7983), a Escola de Mecânica da Armada (Esma), completou nesta segunda-feira seu 10º ano dedicado a resgatar a memória das vítimas do terrorismo de Estado, no mesmo dia em que o golpe militar completa 38 anos.
A Secretaria de Direitos Humanos argentina e distintas organizações humanitárias lembraram hoje a reconversão da ex-prisão clandestina, em um grande ato sob o lema “Um povo com Memória é Democracia para Sempre”.
“Hoje, voltamos a repudiar o ódio, o horror e a morte que nasceram naquele 24 de março de 1976. Voltamos a comemorar a luta de milhares de companheiros e jovens que entregaram suas vidas por um país melhor”, afirmou o ministro da Justiça e Direitos Humanos argentino, Julio Alak, que liderou o ato junto à presidente das Avós de Praça de Maio, Estela de Carlotto.
A Esma, uma prisão ilegal situada em plena cidade de Buenos Aires por onde passaram mais de cinco mil detidos com muito poucos sobreviventes, é um dos lugares mais simbólicos da etapa mais negra da história recente da Argentina.
No ano 2004, o centro militar passou para as mãos do Estado para se transformar no Espaço Memória e Direitos Humanos, como parte da política de “Memória, Verdade e Justiça” implantada por Néstor Kirchner.
Aquela data foi recordada hoje pela presidente argentina, Cristina Kirchner, com uma foto postada em sua conta no Twitter sob o mesmo slogan.
“É uma grande mudança e um grande triunfo de toda a sociedade o poder de transformar um lugar tão tenebroso e tão obscuro como é a Esma em um lugar de memória, onde tudo sustente os valores dos direitos humanos para as próximas gerações”, disse à Agência Efe Manuel Gonçalves, neto recuperado número 57.
“Foi uma enorme máquina de matar, o melhor exemplo do que a ditadura foi capaz. Por isso, a importância de transformar este símbolo do terror em um espaço que lembre, que não esqueça, mas que também olhe para o futuro e que contribua para à formação das novas gerações”, apontou Gonçalves.
A partir de hoje, Gonçalves dirigirá a Casa pela Identidade das Avós de Praça de Maio, inaugurada nesta tarde no antigo pavilhão de operações da ex-escola e que acolherá mostras sobre a história e a luta da organização humanitária.
“É uma data que representa o trágico do terrorismo de Estado, mas também queremos que seja o momento de lembrar a todos os militantes populares que foram perseguidos”, explicou à Efe Giselle Tepper, integrante de H.I.J.O.S (Filhos e Filhas pela Identidade e a Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio).
Durante todo o dia, manifestações e concentrações em todo o país lembraram o golpe militar de 24 de março de 1976, e reivindicaram Justiça para as vítimas do terrorismo de Estado. O principal aconteceu na capital, onde milhares de pessoas se concentraram no centro de Buenos Aires levando cartazes e fotos dos desaparecidos durante a ditadura.
Os atos de lembrança tinham começado ontem à noite, com uma vigília na ex-Esma que se prolongou até às 3h10 horário local (3h10 em Brasília), o mesmo momento em que 38 anos atrás foi anunciado o início da etapa mais negra da história recente da Argentina.
“Isto funcionava como um centro clandestino onde entraram mais de cinco mil pessoas. Onde se torturou com as piores torturas imagináveis, com um nível de perversão espantoso. Também nasceram aqui muitas crianças que depois foram apropriados”, contou à Efe a atriz Anabel Cherubito durante a vigília.
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Neste 24 de março esteve marcado também pelas divergências em torno da política de direitos humanos do Executivo de Cristina Kirchner, com a designação de César Milani como chefe do exército no centro das críticas de vários grupos opositores e organizações sociais contrárias ao kirchnerismo. EFE
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